sábado, 6 de julho de 2013

"INCÓMODO" - Soares Teixeira

Incómodo. Há um excesso de pequenez a respirar os meus instantes. Observo-a. Anda por aí a sobrar do espaço e a invadir a festa alheia; a minha festa, para a qual apenas convidei aves migratórias. Que quer essa asa incompleta, encurralada na ambição de sobrevoar as lonjuras? Na minha festa bebe-se azul por cálices de transparência e comem-se pequenos pedaços de sol molhados em horizonte; na minha festa escuta-se música tocada pelo vento em instrumentos feitos de praias, árvores e montes, e ao som dessa música eu e os meus convidados dançamos, apenas vestidos de leveza. Consinto que alguns centauros a tocar flautas e acompanhados por duendes a fazer soar címbalos e pandeiretas invadam a minha festa, permito também que algumas gotas de orvalho rolem entre os meus convidados. O que eu não tolero é a intromissão de uma pequenez que nem sequer merece ser nomeada. Enxoto-a. Vai-te!



Soares Teixeira – 06-07-2013
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