Há nas coisas vulgares uma rara cor que as atravessa. Às
vezes a excessiva proximidade não nos permite ver a coluna, apenas a sua
sombra. E quantas vezes a essa coluna que não vemos segue-se outra, e a esta
outra ainda, e todas elas formam um templo feito à nossa medida, mas do qual
não vemos mais do que a sombra de uma coluna - uma única sombra, que nos pode
parecer estrangeira. Às vezes vale a pena não guardar o gesto e estender a mão
para a sombra que nos observa. Às vezes quando o passado parece ser uma nostálgica
sombra derramada pelos passos eis que – rara – surge a cor de uma coisa vulgar
que invoca esta coisa vulgar que somos. Às vezes há pessoas invulgares; têm o
hábito de não ser estrangeiras perante as flores.
Soares Teixeira – 08-07-2013
(© todos os direitos reservados)