Lento o som propaga-se, quase resto de eco, quase silêncio.
Ouve-se ainda, mas muito pouco. Dói. Na planície derradeira, árvores
translúcidas ladeiam uma flor de caule quebrado. Aguardam que o tempo vivido
seja tempo convertido em novo lírio. Tudo está recolhido dentro de si mesmo,
numa ordem própria do destino. O som, talvez de sino, quase desligado da
realidade é, contudo, um sulco de arado no sentir. Prepara-se a hora nova, preparam-se
as novas águas, prepara-se o reencontro. Uma flauta e um pano de linho estão
suspensos, junto da flor no limiar do eterno. Aguardam o momento em que hão-de
receber a nudez do espírito. Lento, o som quase não existe, apenas a sua
distância nos é frontal. Lento, o som quase se converte num rumor de ondas de
um mar desconhecido, a bater no casco de uma barca que aguarda pela viagem. Toda
a inteireza do enigma observa o tudo rente ao nada, o nada rente ao tudo. No
caule quebrado da flor está um embrião de unidade. Tudo tão frágil. Ainda habitas
a matéria, Luís – e amanhã?
Soares Teixeira – 11-07-2013
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