Olhando os seus perfis vemos proas que são horizonte, e de frente vemos pêssegos de esperança. Das mãos nasce-lhes poesia enlaçada com múltiplas ferramentas Se observarmos bem reparamos que os seus ombros são pombas, se nos detivermos um pouco sentimos nos seus peitos o crescer de vinhas, se pronunciarmos os seus nomes diremos terra e céu e chuva e oceano
Se uma rua de pensamento nos convidar entremos, respeitosamente, ao fundo está uma coluna e nela gravada uma palavra com a luz dos seus corações palpitantes e a palavra é: TODOS
ANGÉLIQUE KIDJO At an Angélique Kidjo concert I made myself music I made myself Africa My arms and legs picked up memories that weren't mine or maybe they were before I existed My hips screamed rhythm my feet discovered another ground With gestures beyond geographies my neck left the hours and my chin pointed to savannahs I was from the sign of dance and Mother Nature's homeland Lightning lit up the skies of many hearts because there were many who wanted to disquiet, reinvent to be a smile with bare legs to be a look with open hands to be an arrow creating a sky of freedom Cups made of temples and heels gave joy to drink to the spaces and there was so much rain that a new world was born
Soares Teixeira
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ANGÉLIQUE KIDJO Num concerto de Angélique Kidjo fiz-me música fiz-me África Os meus braços e as minhas pernas foram buscar memórias que não eram minhas ou talvez fossem antes de eu existir As minhas ancas gritaram ritmo os meus pés descobriram outro chão Com gestos para lá das geografias o meu pescoço saiu das horas e o queixo apontou para savanas Fui do signo da dança e da pátria da Mãe Natureza Relâmpagos iluminaram os céus de muitos corações porque foram muitos os que se quiseram desinquietar, reinventar ser um sorriso com pernas nuas ser um olhar de mãos abertas ser uma seta a criar céu de liberdade Copos feitos de têmporas e calcanhares deram alegria a beber aos espaços e foi tanta a chuva que um novo mundo nasceu Soares Teixeira
Foto tirada por mim, hoje, no pátio da Livraria Snob, em Lisboa
TERTULIANDO Palavras a fazer de pássaros dizem adeus aos lábios dos poetas e viajam sobre superfícies que parecem banais Assim, uma parede estende os braços porque por ela se espalham voos de aves e uma outra veste-se de sílabas da cabeça aos pés - este o mistério das palavras dos poetas; ângulos diversos, diversas pulsações do sentir, diversos mundos a aderir ao corpo, transformam o banal em balcão de bar onde copos se inclinam para a boca enquanto paredes descobrem novas posições para fazerem amor com o que ninguém vê Tertuliando se fazem jangadas que avançam pelos mares onde cachos de uvas caem de nuvens que adivinham desassossegos de instintos, próprios daqueles que buscam por dentro novas geografias e por fora se deixam ser baía de descobertas alheias Um triângulo de céu pode conversar com plantas em vasos pendurados numa parede? Claro que pode – tudo é poesia -, tudo depende da visão da roda do leme que preside aos sentidos,
Pobre parede com três tristes linhas de grades, deixa que em ti entrem palavras a fazer de pássaros, recebe os sons, os sentires, o céu Às vezes sou como tu, alta parede em solitária solidão, mas isso é às vezes hoje não hoje, em palavras,, vou, marítimo, pelo oceano de astros onde caio
"Today is Poetry Day", said a tree early in the morning, lengthily extending all the branches which then embraced the branches of other trees, which in turn repeated the same gestures and words It was a wave of greetings and hugs that began from a tree in the centre of the forest, and spread beyond the green; to the rivers, and beyond the rivers, to the mountains, and beyond the mountains, to the fields, and beyond the fields, to the people, and beyond the people Poetry..., Poetry..., Poetry..., was the word with the greatest echo, the one that rang out far and wide, and therefore the most heard Poetry..., Poetry..., Poetry..., was the veil that flew through space, and became the song of diversity The stars observed the new light that enveloped the Earth, and this distant but clear echo reached them: Poetry..., Poetry..., Poetry..., and they gave each other secret hugs, repeating: Poetry..., Poetry..., Poetry..., to infinity
LIVRE O tempo passa e tudo se resume ao som de um sino que se afasta deixando para trás relâmpagos de folhas amarelas, violinos em fim de tarde e praias com cada vez menos conchas de sonhos No entanto, de uma fogueira marítima, acesa no íntimo das horas, chamam-me aves incandescentes para que a elas me junte à conquista de nuvens que são ilhas onde promontórios aguardam pássaros com nascentes no olhar E eu visto-me de azul e vou, naturalmente, sem relógios dentro crânio ou sombras no peito vou, apenas, livre Soares Teixeira
CREPÚSCULO Despeço-me do sol, silenciado pelo seu adeus e na minha testa há uma abelha quieta Algumas arestas vêm beber do meu pensamento; olho-as através de uma porta que se abre A noite será bosque e eu, ignorante dos caminhos, procurarei refúgio numa choupana de astros Soares Teixeira
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CREPUSCLE I say goodbye to the sun, silenced by its farewell and on my forehead there's a quiet bee Some edges come to drink from my thoughts; I look at them through a door that opens The night will be forest and I, ignorant of the ways, will seek refuge in a hut of stars