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sábado, 28 de dezembro de 2024

TODOS - SOARES TEIXEIRA

 



TODOS

 
Olhando os seus perfis
vemos proas que são horizonte,
e de frente
vemos pêssegos de esperança.
Das mãos nasce-lhes poesia
enlaçada com múltiplas ferramentas
 
Se observarmos bem
reparamos que os seus ombros são pombas,
se nos detivermos um pouco
sentimos nos seus peitos o crescer de vinhas,
se pronunciarmos os seus nomes
diremos terra e céu e chuva e oceano
 
Se uma rua de pensamento nos convidar
entremos, respeitosamente,
ao fundo está uma coluna
e nela gravada uma palavra
com a luz dos seus corações palpitantes
e a palavra é: TODOS

 
 
Soares Teixeira


terça-feira, 19 de novembro de 2024

ANGÉLIQUE KIDJO - SOARES TEIXEIRA

 

ANGÉLIQUE KIDJO - SOARES TEIXEIRA


ANGÉLIQUE KIDJO
 
At an Angélique Kidjo concert
I made myself music
I made myself Africa
 
My arms and legs
picked up memories that weren't mine
or maybe they were before I existed
 
My hips screamed rhythm
my feet discovered another ground
 
With gestures beyond geographies
my neck left the hours
and my chin pointed to savannahs
 
I was from the sign of dance
and Mother Nature's homeland
 
Lightning lit up the skies
of many hearts
because there were many
who wanted to
disquiet, reinvent
to be
a smile with bare legs
to be
a look with open hands
to be
an arrow creating a sky of freedom
 
Cups made of temples and heels
gave joy
to drink to the spaces
and there was so much rain
that a new world was born


Soares Teixeira


--


ANGÉLIQUE KIDJO
 
 
Num concerto de Angélique Kidjo
fiz-me música
fiz-me África
 
Os meus braços e as minhas pernas
foram buscar memórias que não eram minhas
ou talvez fossem antes de eu existir
 
As minhas ancas gritaram ritmo
os meus pés descobriram outro chão
 
Com gestos para lá das geografias
o meu pescoço saiu das horas
e o queixo apontou para savanas
 
Fui do signo da dança
e da pátria da Mãe Natureza
 
Relâmpagos iluminaram os céus
de muitos corações
porque foram muitos
os que se quiseram
desinquietar, reinventar
ser
um sorriso com pernas nuas
ser
um olhar de mãos abertas
ser
uma seta a criar céu de liberdade
 
Copos feitos de têmporas e calcanhares
deram alegria
a beber aos espaços
e foi tanta a chuva
que um novo mundo nasceu
 
 
Soares Teixeira




sábado, 17 de agosto de 2024

MAÇÃ - SOARES TEIXEIRA

 

MAÇÃ - SOARES TEIXEIRA



MAÇÃ

 
Ergue-se das águas do Tejo
uma maçã de horizonte.
Numa turbulência de olhar,
estendo os braços
e apanho o fruto da árvore do tempo.
 
Uma dentada, depois outra,
e já sou vento
a soprar sobre os dias em que fui
navegante,
proa de chegada e de partida.
 
Tejo
meu rio de respiração milenar,
tantas vezes de ti me despedi,
tantas vezes este renascer
nas tuas veias.
 
 
Soares Teixeira 
(© todos os direitos reservados)




terça-feira, 23 de julho de 2024

MARIA JOÃO PIRES - 80 - Soares Teixeira

 




MARIA JOÃO PIRES  - 80
 
80 poemas
80 mãos que voam
80 flores que dançam
em música saúdam Maria,
- João Pires, acrescenta
um pardal saltitando,
e uma gota de orvalho sorri
 
A sair do pêssego da sua música
Mozart surge,
estende a mão,
e o pardal poisa-lhe nos dedos
 
Um rio faz-se piano
e, em silêncio,
todos escutam Maria
- Parece acabada de nascer,
murmura uma árvore
- João Pires, diz o pardal,
que voa para o teclado
levando Mozart consigo
 
80 poemas
80 mãos que voam
80 flores que dançam
canta o mundo,
com voz
de gota de orvalho
 
 
Soares Teixeira – 23 de Julho de 2024
- nos 80 anos de Maria João Pires-
(© todos os direitos reservados)



quarta-feira, 26 de junho de 2024

TERTULIANDO - SOARES TEIXEIRA

 



LIVRARIA SNOB

Foto tirada por mim, hoje, no pátio da Livraria Snob, em Lisboa

TERTULIANDO
 
Palavras a fazer de pássaros
dizem adeus aos lábios dos poetas
e viajam sobre superfícies
que parecem banais
 
Assim, uma parede estende os braços
porque por ela se espalham voos de aves
e uma outra veste-se de sílabas
da cabeça aos pés
- este o mistério das palavras dos poetas;
ângulos diversos, diversas pulsações do sentir,
diversos mundos a aderir ao corpo,
transformam o banal em balcão de bar
onde copos se inclinam para a boca
enquanto paredes descobrem novas posições
para fazerem amor com o que ninguém vê
 
Tertuliando se fazem jangadas
que avançam pelos mares
onde cachos de uvas caem de nuvens
que adivinham desassossegos de instintos,
próprios daqueles que buscam por dentro
novas geografias
e por fora se deixam ser
baía de descobertas alheias
 
Um triângulo de céu pode conversar com plantas
em vasos pendurados numa parede?
Claro que pode – tudo é poesia -,
tudo depende da visão da roda do leme
que preside aos sentidos,
 

Pobre parede com três tristes linhas de grades,
deixa que em ti entrem palavras a fazer de pássaros,
recebe os sons, os sentires, o céu
Às vezes sou como tu, alta parede em solitária solidão,
mas isso é às vezes
hoje não
hoje, em palavras,,
vou,
 marítimo,
pelo oceano de astros onde caio

 
 
Soares Teixeira – 26 de Junho de 2024
(© todos os direitos reservados)




domingo, 16 de junho de 2024

A MARIA QUINTANS - SOARES TEIXEIRA

 

MARIA QUINTANS


A MARIA QUINTANS
 
Lembro-me
daquela altura
em que começámos a falar de coisas
para lá do alumínio das fôrmas
onde íamos ao forno
 
Falávamos de Ilhas de Tesouros
onde se chegava em jangadas
feitas de rosas e desassossegos
e onde praias de palavras nos convidavam
a ser a propagação de um resto
de nós mesmos
Dedicar-nos-íamos à pirataria;
os nossos sonhos adormecidos
seriam saqueados das suas
casas fechadas
e levados para navios voadores
com velas de chuva e relâmpagos.
Beberíamos ventos, riríamos com os golfinhos
e os nossos brincos seriam os assobios
de outros como nós
 
Quando assim, solares, saíamos do peito,
éramos pombas
capazes de cortar o arame farpado
de quaisquer horas aprisionadas
 
Soube que te entrelaçaste
com a hera de uma noite súbita
 
Incrédulo e em cinza
molho os lábios com silêncio
e aceno-te com um ramo de oliveira
 
Adeus, Maria
 
 
Soares Teixeira - 16-06-2024

quinta-feira, 21 de março de 2024

DIA DA POESIA - POETRY DAY - SOARES TEIXEIRA

 

DIA DA POESIA

DIA DA POESIA
 
 
“Hoje é o dia da Poesia”,
disse uma árvore, logo pela manhã,
estendendo demoradamente todos os ramos
que assim abraçaram
os ramos de outras árvores,
que por sua vez foram repetindo
os mesmos gestos e as mesmas palavras
 
Foi uma onda de saudações e abraços que partiu
de uma árvore, no centro da floresta,
e se propagou para lá do verde;
até aos rios, e para lá dos rios,
até às montanhas, e para lá das montanhas,
até aos campos, e para lá dos campos,
até às pessoas, e para lá das pessoas
 
Poesia…, Poesia…, Poesia…,
foi a palavra com maior eco,
a que ficou a soar por todas as lonjuras,
e por isso a mais ouvida
Poesia…, Poesia…, Poesia…,
foi o véu que voou pelos espaços,
e se tornou o cântico da diversidade
 
Os astros observaram
a nova luz que envolveu a Terra,
e chegou-lhes esse eco longínquo, mas claro:
Poesia…, Poesia…, Poesia…,
e deram abraços secretos, repetindo:
Poesia…, Poesia…, Poesia…,
até ao infinito
 
 
 
Soares Teixeira – 21 de Março de 2024
(© todos os direitos reservados)


POETRY DAY


"Today is Poetry Day",
said a tree early in the morning,
lengthily extending all the branches
which then embraced
the branches of other trees,
which in turn repeated
the same gestures and words
 
It was a wave of greetings and hugs that began
from a tree in the centre of the forest,
and spread beyond the green;
to the rivers, and beyond the rivers,
to the mountains, and beyond the mountains,
to the fields, and beyond the fields,
to the people, and beyond the people
 
Poetry..., Poetry..., Poetry...,
was the word with the greatest echo,
the one that rang out far and wide,
and therefore the most heard
Poetry..., Poetry..., Poetry...,
was the veil that flew through space,
and became the song of diversity
 
The stars observed
the new light that enveloped the Earth,
and this distant but clear echo reached them:
Poetry..., Poetry..., Poetry...,
and they gave each other secret hugs, repeating:
Poetry..., Poetry..., Poetry...,
to infinity

© Soares Teixeira 


terça-feira, 19 de março de 2024

A NUNO JÚDICE - SOARES TEIXEIRA

 

NUNO JÚDICE







A NUNO JÚDICE
 
 
O poema vai-se entranhando debaixo das unhas
quando, sem idade, enterramos as mãos
na areia quente das palavras
 
sentimo-nos acontecer, mais do que nunca,
naquela praia, onde o sol e o mar nos saúdam
e um pequeno caranguejo nos observa em silêncio
 
dentro de cada página, mundos parecem acontecer
pela primeira vez, a cada instante,
como explosões de libélulas de todas as cores
 
o rio surge de dentro do poema e traz-nos o espelho
onde nos vemos reflectidos nas constelações
do cérebro, e para lá ainda; até ao beijo inicial da luz
 
página a página, sentimos urgências, a voar, livres,
e abraços que se requebram em danças antiquíssimas,
e tudo isso em nós, entregue pelo poeta
 
 
 
Soares Teixeira – 19 de Março de 2024
(© todos os direitos reservados)


 

TO NUNO JÚDICE


The poem gets under the fingernails
when, ageless, we bury our hands
in the hot sand of words

we feel like we're happening, more than ever,
on that beach, where the sun and the sea greet us
and a small crab watches us in silence

inside each page, worlds seem to happen
for the first time, every moment, 
like explosions of dragonflies of all colors

the river emerges from within the poem and brings us the mirror
where we see ourselves reflected in the constellations 
of the brain, and beyond; until the initial kiss of light

page by page, we feel urgencies, flying, free,
and embraces that sway in ancient dances,
and all this in us, delivered by the poet



Soares Teixeira






domingo, 10 de março de 2024

LIVRE - SOARES TEIXEIRA

 



LIVRE
 
O tempo passa
e tudo se resume ao som de um sino
que se afasta
deixando para trás
relâmpagos de folhas amarelas,
violinos em fim de tarde
e praias com cada vez menos
conchas de sonhos
 
No entanto,
de uma fogueira marítima,
acesa no íntimo das horas,
chamam-me aves incandescentes
para que a elas me junte
à conquista de nuvens que são ilhas
onde promontórios aguardam
pássaros com nascentes no olhar
 
E eu visto-me de azul
e vou, naturalmente,
sem relógios dentro crânio
ou sombras no peito
vou, apenas,
livre
 
 
Soares Teixeira 



domingo, 18 de fevereiro de 2024

CREPÚSCULO - CREPUSCLE - SOARES TEIXEIRA

 

CREPÚSCULO - CREPUSCLE


CREPÚSCULO
 
Despeço-me do sol,
silenciado pelo seu adeus
e na minha testa
há uma abelha quieta
 
Algumas arestas
vêm beber do meu pensamento;
olho-as
através de uma porta que se abre
 
A noite será bosque
e eu, ignorante dos caminhos,
procurarei refúgio
numa choupana de astros
 
 
Soares Teixeira 

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CREPUSCLE
 
I say goodbye to the sun,
silenced by its farewell
and on my forehead
there's a quiet bee
 
Some edges
come to drink from my thoughts;
I look at them
through a door that opens
 
The night will be forest
and I, ignorant of the ways,
will seek refuge
in a hut of stars


Soares Teixeira 







segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

AH NATAL - SOARES TEIXEIRA

 

SOARES TEIXEIRA




AH!…, NATAL…

Oh Manel, tantos likes, olha lá bem.
Oh Maria e eu, olha pra mim.
Ah!… vê lá quantos já tem o Martim.
E olha a Mizé, um mês e os que ela tem.
O periquito, o gato, o cão também.
Ah!…, que alegria, são likes sem fim.
Com tantos likes, tanta fama assim,
brilhamos mais que a Estrela de Belém.
Ah!…, só guerra e mais guerra, muda o canal,
isso está-me a dar cabo do juízo,
nem te posso comprar nada em paz!
Olha este telemóvel pró Natal…,
Ah!... e a câmera, este é que é preciso.
Sim, amorzinho, vai já pró cabaz.


Soares Teixeira – 24 de Dezembro de 2023
(© todos os direitos reservados)


terça-feira, 31 de outubro de 2023

"HOJE" - SOARES TEIXEIRA

 

SOARES TEIXEIRA
                                                                        (imagem da net)


HOJE
 
 
Entre os astros e as flores
hoje prefiro ajoelhar
e procurar abrigo
junto das vozes da terra
que a cada segundo
repetem o meu nome
 
Deixá-los, os astros,
na eternidade;
se lá existem paixões
hoje não ecoam em mim,
nem habitam na metade
que a minha alma procura
 
Hoje existo
para me deixar enobrecer
pelas flores,
para sentir as palavras do chão,
e para caminhar sob as arcadas
do silêncio de um jardim
 
 
 
Soares Teixeira – 31 de Outubro de 2023
(© todos os direitos reservados)



sexta-feira, 13 de outubro de 2023

"GUERRA" - SOARES TEIXEIRA

 

Guernica

Guernica, de Pablo Picasso


GUERRA
 
 
Ondulante assombração a serpentear
pelos túneis dos tempos
- a guerra
 
Longos uivos incandescentes
choram corpos que escorrem morte,
cardumes de peixes podres
a agonizar em chagas de gestos,
dias emparedados pelo sangue
dos seus seios cortados por lâminas
 
Língua bífida a largar cuspo de maldição
em olhares alucinados
- a guerra
 
Mundo ou túmulo?
Responde, bicho-homem!
Responde, criatura de lodo!
 
 
 
Soares Teixeira – 13 de Outubro de 2023
(© todos os direitos reservados)


 


terça-feira, 10 de outubro de 2023

´PERGUNTA' - SOARES TEIXEIRA

 

SOARES TEIXEIRA

PERGUNTA
 
 
‘O que está no fim do aqueduto?’
Perguntou-me um dia um pássaro
que voou, até o perder de vista.
 
Fiquei no fim da tarde
a olhar como o vermelho
ia sendo um cada vez mais ténue
grito do sol,
até se tornar inaudível
nas ruas tranquilas da aldeia
que era o meu olhar.
 
Em água, desprendi-me do corpo
e tentei ir atrás do pássaro,
pelo aqueduto…
 
Fez-se noite, regressei,
e repeti a pergunta do pássaro,
com um estranho eco na voz
 
 
Soares Teixeira – 10 de Outubro de 2023
(© todos os direitos reservados)




terça-feira, 3 de outubro de 2023

'VANDA' - Soares Teixeira

 

Soares Teixeira

Minha homenagem a uma guerreira, que tanto sofreu


VANDA

 


Partiu,

foi ser luz marítima

para outra enseada.

 

Tem já por caminho

um luar

onde a eternidade

em passos sem tempo

lhe dá a mão;

os dedos enlaçados,

são rosas,

e, em unidade,

vão…

 

Passou pelo mundo

com sorriso de trigo

e vertical vontade,

agora

está a dizer aos espaços

que a maior liberdade

é o amor

 

Adeus

 

 

Soares Teixeira – 02 de Outubro de 2023

(© todos os direitos reservados)



quarta-feira, 13 de setembro de 2023

'A NATÁLIA CORREIA' - SOARES TEIXEIRA

 

NATÁLIA CORREIA 100 ANOS


                          

A NATÁLIA CORREIA
(no dia dos seus 100 anos, e sempre)
 
 
Ela olha-nos, feita de fotões,
Com um olhar sempre mais adiante,
E com gestos de lonjura cantante,
Mostra-nos o inverso das ilusões
 
Diz-nos que a esperança são embriões
Onde a nossa raiz é tripulante
Do barco onde o além é diamante
Que espera o sermos mar e vulcões
 
Os ares e as pombas que a respiram
São hortênsias de hora a acontecer
Em manhãs de onde pérolas se atiram
 
E palavras aladas vêm viver
No nosso eixo, e com ele giram,
Dando-nos força para amanhecer
 
 
 
Soares Teixeira – 13 de Setembro de 2023
(© todos os direitos reservados)



domingo, 11 de junho de 2023

"PRINCÍPIO" - SOARES TEIXEIRA

 

Lembras-te?
Hesitámos, mas o sim do corpo
foi vinho
e nós, cerejas enlaçadas,
rolámos como lua única
de um planeta distante,
num outro sistema solar
 
Noivos de orvalho,
atirámos uma corda ao céu,
e por ela subimos
abraço a abraço,
beijo a beijo,
elevando-nos sempre
pelas alturas da nossa luz
 
Fontes do tempo
fomos o próprio tempo
e, de nós, completos,
saíam os estandartes
que anunciavam
o fim do sono do amor
e o princípio de outro mar
 
 
 
Soares Teixeira
(© todos os direitos reservados)
 
- a ser reeditado em livro meu a sair em 2023 -