No dia 17 de Novembro, com curadoria de Lauren Mindenueta, teve lugar a Primeira Noite de Poesia Ibero-Americana. O evento decorreu em vários locais de Lisboa: Fundação José Saramago, Teatro Romano, Café Martinho da Arcada e Instituto Cervantes. Uma oportunidade para escutar e conviver com grandes poetas e assistir a magníficos debates e performances.
domingo, 19 de novembro de 2023
PRIMEIRA NOITE DE POESIA IBERO-AMERICANA
quinta-feira, 5 de outubro de 2023
'NAVEGAÇÃO' - SOARES TEIXEIRA
NAVEGAÇÃO
Gostava que
o meu olhar pudesse sair pelos dedos do meu braço e entrar naquela cabeça,
naquele cérebro, e percorrer aquele braço e sair pelos seus dedos, no momento
em que ele assinou aquele documento. E depois ficar ali; espectro, fantasma,
coisa longínqua, coisa indefinível, futuro, séculos. Olhá-los olhos nos olhos,
a todos, mas, principalmente, a ele, Afonso, e ter a ousadia de avançar entre
capas a cobrir corpos tensos com rostos sérios e abraçá-lo, e murmurar-lhe ao
ouvido apenas uma palavra: “Obrigado”. E
porque não, fazer essa viagem? Sim, um eu, oitocentos e oitenta anos antes de
estar aqui, estar lá e observar como ele, com os seus olhos inquietos, conquista
instante e procura horizonte. E lá, depois de todos saírem, esse eu, fica só,
sentado numa cadeira a olhar para a mesa onde momentos antes o Tratado de Zamora
fora assinado. 05 de Outubro, como hoje, mas 1143. Pelas paredes e chão de pedra desliza a
minha emoção, que sobe à mesa agora sem nada em cima, e aí me detenho, nessa
superfície de madeira, vazia, mas tão cheia – árvore que foi, em floresta se
tornou. E assim naveguei, hoje 05 de Outubro de 2023, eu José.
Soares Teixeira – 05 de Outubro de 2023
(© todos os direitos reservados)
sábado, 11 de junho de 2016
SOBRE O LIVRO “ANUNCIAÇÕES”, DE MARIA TERESA HORTA
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Álvaro Velho do Barreiro – primeiro jornalista português
(Pseud. Literário: Soares Teixeira)
Nascido em rudes terras, Portugal cresceu e foi cumprindo o seu destino mítico. O conceito de Império de Cristo transformou-se em estratégia factual. Monges e cavaleiros, trovadores e povo acreditaram na ideologia de um destino marcado pela vontade divina. Acreditaram ter sido os escolhidos por Deus para uma obra messiânica e identificaram-se com o sopro do Espírito Santo para, numa odisseia jamais vista, dilatar "A fé, o Império e as terras viciosas", como haveria de cantar o sublime Camões. À medida que, pela acção das armas e da política, Portugal impunha as suas fronteiras, a Língua Portuguesa acompanhava esse processo de afirmação e protagonismo. A proclamação por D. Dinis em Maio de 1289 de que todos os documentos emitidos pela chancelaria régia deveriam ser redigidos em português constitui um passo fundamental desse processo de maturação. A notável acção de pedagogia social exercida pelos esclarecidos Príncipes da Ínclita Geração, D. Duarte e D. Pedro que, em obras como a Ensinança de Bem Cavalgar a Toda a Sela, o Leal Conselheiro, ou a Virtuosa Benfeitoria mostram o seu empenho em dotar a pátria de valores éticos e morais, representa outra grande referência. Igual destaque para Fernão Lopes que, encarregue de edificar as fundações da memória colectiva, usou de uma grandiosa visão para compreender o todo colectivo nacional, elevando a literatura portuguesa à monumentalidade.
Nessa marcha evolutiva a literatura de viagens constitui uma etapa de suprema importância. Representa a passagem de testemunho do homem essencialmente crédulo para o homem essencialmente inteligente, o declínio da mentalidade medieval e o emergir do pensamento crítico e da ciência moderna, o encontro com o Outro, a visão planetária.
O manuscrito de Álvaro Velho do Barreiro referente à primeira viagem de Vasco da Gama à Índia constitui um dos documentos cimeiros dessa literatura, não só pelo seu carácter precursor do género literário em si, como também pela vibrante e sedutora originalidade com que o mareante nos relata aquela que foi uma das maiores aventuras da história da humanidade. Através de uma ardente auscultação da realidade e transposição da matéria observada e vivida para um modelo discursivo inédito Álvaro Velho afasta-se em absoluto do abstracto e da alegoria para se tornar repórter de acontecimentos quotidianos por si vividos. Definitivamente para trás ficam narrativas onde a concepção ptolemaica do mundo fazia aos Velhos do Restelo, parecer distante, mesmo inatingível, a conquista dos mares "Ainda além da Taprobana" e o alcançar de terras "Em busca da espiçiaria".
A forma notável como através de um discurso onde pontuam escassos ornatos subjectivos, Álvaro Velho, numa correcta adequação cronológica, conseguiu a convergência de questões de natureza antropológica, socioeconómica, etnográfica, psicológica e científica, faz com que ainda hoje os seus textos se mostrem atraentes e imprescindíveis. Foi o seu posicionamento como observador constante e testemunha participativa que lhe permitiu optar por um tipo de escrita sem precedentes onde a noção de espaço e de tempo se assumem como categorias nucleares para uma objectividade de pensamento emergente da desestruturação do sistema e da cosmovisão medievais. Alguns consideraram como fraco o estilo literário usado por Álvaro Velho. No entanto, o manuscrito do mareante da odisseia gâmica deverá analisado mais por aquilo que configura na história de Portugal do que pela componente estética. Fazendo o seu enquadramento dentro de uma ideologia de aventura e conquista do futuro cuja acção o autor, é lícito admiti-lo, deveria estar a sentir em alto grau, não será erróneo inferir que a sensibilidade de Álvaro Velho se tenha deliberadamente concentrado mais na essência noticiosa dessa mesma acção do que na forma léxico-gramatical da sua redacção. Uma sensibilidade voltada, pois, para os factos concretos como consequência de providencial apelo interior a um método cognitivo. Este tendo como objectivo a apreensão e registo da realidade factológica que acompanhasse a estratégia de vanguarda da grande e vertiginosa aventura humana levada a cabo pelos Portugueses no seu desígnio de, através da expansão de um processo mercantilista, criar o Estado Ecuménico de Deus de que o Rei de Portugal seria o grande impulsionador.
Pelo seu testemunho, único e de vibrante originalidade, o manuscrito de Álvaro Velho, descoberto em 1834 por Alexandre Herculano no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e levado pelo grande historiador para a Biblioteca Pública Municipal do Porto onde se encontra arquivado com o número 804, tornou-se ao longo da história referência preciosa para investigadores das humanidades e das ciências positivas. Cronistas como Valentim Fernandes, Fernão Lopes de Castanheda, Damião de Barros, Gaspar Correia e Historiadores e investigadores como Diogo Köpke, Alexandre Herculano, Franz Hümmerich, Ravenstein, Gago Coutinho, Luís de Albuquerque, Joaquim Barradas de Carvalho e José Caro Proença serviram-se do manuscrito de Álvaro Velho para aturados estudos da épica viagem, que representou simultaneamente o consolidar da ousada conquista dos mares do Atlântico Sul e a destemida incursão no Oceano Índico onde é alcançado o velho e mítico mundo Asiático.
Quem foi: Os tripulantes da frota de Vasco da Gama
O que aconteceu: Partiram
Onde aconteceu: Restelo, Lisboa
Quando aconteceu: Sábado, oito de Julho de 1497
Ainda uma outra passagem do manuscrito:
Quem: Os marinheiros da frota de Vasco da Gama
O quê: Desmantelaram a nau que levava os mantimentos
Onde: Na Angra de São Brás
Quando: Vinte e cinco de Novembro, Sábado à tarde, dia de Santa Catarina
Que: Navegaram em leste
Onde: Mar da Arábia
Quando: Terça-feira, 24 de Abril de 1498
CARVALHO, Joaquim Barradas de "A la recherche de la specificite de la renaissance portugaise" Fundação Calouste Gulbenkian, Paris, 1983
SEIXO, Maria Alzira "Poéticas da viagem na literatura", Edições Cosmos, Lisboa, 1998
CRISTOVÃO, Fernando "Condicionamentos culturais da Literatura de Viagens", Edições Cosmos, Lisboa, 1999
BOUCHON, Geneviéve "Vasco da Gama", Lisboa, TerraMar, 1998
SARAIVA, António José ; LOPES, Oscar "História da Literatura Portuguesa", Porto Editora, Limitada, 1976
PROENÇA, José Caro "Encobrimentos nos Descobrimentos" – Livro II, Câmara Municipal do Barreiro,1998
PROENÇA, José Caro "Encobrimentos nos Descobrimentos" – Livro V, Câmara Municipal do Barreiro, 1996
BOND, F. Fraser "Introdução ao jornalismo: uma análise do quarto poder em todas as suas formas", AGIR, Rio de Janeiro, 1962
ARAÚJO, Silva "Vamos falar de jornalismo", Direcção Geral da Comunicação Social, Lisboa, 1988
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Comunicação apresentada no VI Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas, Rio de Janeiro (8-13 de Agosto de 2001), e publicado nas respectivas Actas.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
"O MEU CAMINHO" - Soares Teixeira
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
"É SEMPRE BOM UM DIA DE SOL INESPERADO" - Soares Teixeira
segunda-feira, 15 de julho de 2013
"ÀS VEZES O INSTINTO INUNDA O INSTANTE" - Soares Teixeira
sábado, 13 de julho de 2013
"ENQUANTO O ESPAÇO NÃO NOS RECUPERA" - Soares Teixeira
"O AMANHÃ ESTÁ DISPERSO NA ETERNIDADE" - Soares Teixeira
quinta-feira, 11 de julho de 2013
"LENTO O SOM PROPAGA-SE" - Soares Teixeira
terça-feira, 9 de julho de 2013
"O INSECTO VOOU" - Soares Teixeira
segunda-feira, 8 de julho de 2013
"HÁ NAS COISAS VULGARES UMA RARA COR QUE AS ATRAVESSA" - Soares Teixeira
"HÁ SEMPRE UM LÁPIS" - Soares Teixeira
sábado, 6 de julho de 2013
"INCÓMODO" - Soares Teixeira
"O VENTO NÃO DÓI NOS GRANDES VELEIROS" - Soares Teixeira
quinta-feira, 4 de julho de 2013
"A PELE É UMA PLANÍCIE ONDE O AR CRESCE" - Soares Teixeira
quarta-feira, 3 de julho de 2013
"ENQUANTO OS DEUSES DORMEM O SONO DOS JUSTOS" - Soares Teixeira
Enquanto os deuses dormem o sono dos justos, ao Sol nunca lhe pesam as pálpebras. Sinto-me amanhecer nestas palavras que vejo correr dentro de mim. Gosto disso. “Amanhecer é sempre uma bênção”, oiço o horizonte dizer. Respiro fundo estas outras palavras. Respiro-as porque acredito nelas e porque, lá no fundo, sinto que elas acreditam em mim. Há um certo tipo de leveza que me aproxima da matéria dos sentimentos. Sim, porque os sentimentos têm matéria. Acham estranho? Então perguntem aos rios, que são sentimento, se têm ou não têm matéria, e perguntem depois à Alegria se é ou não um rio. Se tiverem dificuldade em encontrar a Alegria, contemplem o amanhecer. Estou a falar, primeiramente, para mim mesmo - é óbvio. Para a roda que sou; o eixo, os raios e o resto. Mas falo também - é claro - para outros; outras rodas desta quadriga conduzida pelo Sol.
sexta-feira, 7 de junho de 2013
Junho está estranho
domingo, 23 de setembro de 2012
Elsa Rodrigues dos Santos
Elsa Rodrigues dos Santos deixou-nos. Mudos e petrificados ainda estamos no aconchego do seu sorriso, ainda caminhamos dentro do seu olhar, ainda nos erguemos ao escutar o timbre da sua voz. Deixou-nos a grande matriarca, a incansável líder, a imensa coluna, a amiga, a sábia. E agora? agora somos pedaços de abóbada a cair. Olhamos em volta, estendemos as mãos e ela já não existe para nos receber e nos amparar. E agora? agora ficámos aquém de nós mesmos, a palpitar nervosamente no desalento. E agora, as nossas asas?
Adeus minha querida Amiga. Fizeste-nos felizes. Agora está frio.
Adeus.
Soares Teixeira
sábado, 21 de novembro de 2009
Ruy de Carvalho
Soares Teixeira