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domingo, 19 de novembro de 2023

PRIMEIRA NOITE DE POESIA IBERO-AMERICANA


No dia 17 de Novembro, com curadoria de Lauren Mindenueta, teve lugar a Primeira Noite de Poesia Ibero-Americana. O evento decorreu em vários locais de Lisboa: Fundação José Saramago, Teatro Romano, Café Martinho da Arcada e Instituto Cervantes. Uma oportunidade para escutar e conviver com grandes poetas e assistir a magníficos debates e performances.


Teatro Romano de Lisboa
No Teatro Romano de Lisboa - 1ª parte da actuação: coro homenageando a grande Poeta colombiana Maruja Vieira, através da leitura de alguns dos seus poemas. Seguiram-se leituras individuais em que li algumas estrofes do Canto X de "Os Lusíadas" referentes ao Episódio da Máquina do Mundo.


Víctor Rodríguez Núñez e Soares Teixeira
Eu com o Poeta Víctor Rodriguez Núnez

Ana Mercedes Vivas com Soares Teixeira
Eu com a Poeta Ana Mercedes Vivas


quinta-feira, 5 de outubro de 2023

'NAVEGAÇÃO' - SOARES TEIXEIRA

 

TRATADO DE ZAMORA

NAVEGAÇÃO

 

Gostava que o meu olhar pudesse sair pelos dedos do meu braço e entrar naquela cabeça, naquele cérebro, e percorrer aquele braço e sair pelos seus dedos, no momento em que ele assinou aquele documento. E depois ficar ali; espectro, fantasma, coisa longínqua, coisa indefinível, futuro, séculos. Olhá-los olhos nos olhos, a todos, mas, principalmente, a ele, Afonso, e ter a ousadia de avançar entre capas a cobrir corpos tensos com rostos sérios e abraçá-lo, e murmurar-lhe ao ouvido apenas uma palavra: “Obrigado”.  E porque não, fazer essa viagem? Sim, um eu, oitocentos e oitenta anos antes de estar aqui, estar lá e observar como ele, com os seus olhos inquietos, conquista instante e procura horizonte. E lá, depois de todos saírem, esse eu, fica só, sentado numa cadeira a olhar para a mesa onde momentos antes o Tratado de Zamora fora assinado. 05 de Outubro, como hoje, mas 1143. Pelas paredes e chão de pedra desliza a minha emoção, que sobe à mesa agora sem nada em cima, e aí me detenho, nessa superfície de madeira, vazia, mas tão cheia – árvore que foi, em floresta se tornou. E assim naveguei, hoje 05 de Outubro de 2023, eu José.

 

Soares Teixeira – 05 de Outubro de 2023

(© todos os direitos reservados)


sábado, 11 de junho de 2016

SOBRE O LIVRO “ANUNCIAÇÕES”, DE MARIA TERESA HORTA



Imagino Hildegarda de Bingen e Sandro Botticelli. Imagino-os voltarem-se, surpreendidos com uma luz súbita. Maria e Gabriel estão ali, de mão dada, sorridentes, fulgurante pureza no promontório do prodígio. Começa então a Palavra e a Palavra é o Livro. Uma voz abre-se nos espaços e abre os espaços ao tempo. Poema a poema a voz reúne, acolhe e revela, mistério, rumor de além, respiração marítima, unidade solar, sal da linguagem, medula da sílaba. A voz é o que foi, o que vai sendo e o que será. A voz vem de uns lábios que são fissura de luz no horizonte. A sábia monja beneditina julga estar perante outra das suas visões, o Mestre Florentino quase treme – parece-lhe reconhecer as feições de Maria e do Anjo. Ambos avançam. Surpreendidos e fascinados observam o desenrolar de uma grande história, uma história ímpar, serena e telúrica. Aquela voz, única, una, mas também tríplice, aberta em flor de mistérios, provém dos lábios da Mãe de Cristo, do enviado do Senhor e de… de quem?, perguntam Hildegarda de Bingen e Bortticelli - de Maria Teresa Horta, respondemos nós, que também lá estamos, rodeando o lugar onde tudo se desenrola. E o lugar é o ser viagem.


Soares Teixeira – 07-06-2016
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Álvaro Velho do Barreiro – primeiro jornalista português



Álvaro Velho do Barreiro – primeiro jornalista português



José Vitor Graça Teixeira
(Pseud. Literário: Soares Teixeira)

As crónicas de historiadores da Antiguidade que dão voz aos relatos do Almirante Fenício Hanão e do grego Píteas, ousados navegadores mediterrânicos que se aventuraram até às costas africanas e às ilhas nórdicas, exerceram durante largo período de tempo um fascínio quimérico sobre sucessivos povos. Igualmente assombrosas as descrições presentes no paradigmático Livro das Maravilhas de Marco Polo levaram a que os relatos do mercador Veneziano sobre o fabuloso Extremo Oriente tivessem tido o efeito de uma voz a ressoar na Europa Medieval. As literaturas resultantes destas viagens, apesar do seu inegável contributo para o alargar dos limites do conhecimento humano, estavam, porém, substancialmente subordinadas a uma percepção filtrada por razões teológicas. A visão espiritualizada do homem e das coisas assente em conceitos geográficos ptolemaicos, muitos deles erróneos, mas tornados artigos de fé, levou durante séculos a elaborações místico-filosóficas, com descrições muitas vezes surrealistas que contribuíram para que grande parte da face do mundo permanecesse oculta por véus de mistérios intransponíveis. 

Nascido em rudes terras, Portugal cresceu e foi cumprindo o seu destino mítico. O conceito de Império de Cristo transformou-se em estratégia factual. Monges e cavaleiros, trovadores e povo acreditaram na ideologia de um destino marcado pela vontade divina. Acreditaram ter sido os escolhidos por Deus para uma obra messiânica e identificaram-se com o sopro do Espírito Santo para, numa odisseia jamais vista, dilatar "A fé, o Império e as terras viciosas", como haveria de cantar o sublime Camões. À medida que, pela acção das armas e da política, Portugal impunha as suas fronteiras, a Língua Portuguesa acompanhava esse processo de afirmação e protagonismo. A proclamação por D. Dinis em Maio de 1289 de que todos os documentos emitidos pela chancelaria régia deveriam ser redigidos em português constitui um passo fundamental desse processo de maturação. A notável acção de pedagogia social exercida pelos esclarecidos Príncipes da Ínclita Geração, D. Duarte e D. Pedro que, em obras como a Ensinança de Bem Cavalgar a Toda a Sela, o Leal Conselheiro, ou a Virtuosa Benfeitoria mostram o seu empenho em dotar a pátria de valores éticos e morais, representa outra grande referência. Igual destaque para Fernão Lopes que, encarregue de edificar as fundações da memória colectiva, usou de uma grandiosa visão para compreender o todo colectivo nacional, elevando a literatura portuguesa à monumentalidade.

Nessa marcha evolutiva a literatura de viagens constitui uma etapa de suprema importância. Representa a passagem de testemunho do homem essencialmente crédulo para o homem essencialmente inteligente, o declínio da mentalidade medieval e o emergir do pensamento crítico e da ciência moderna, o encontro com o Outro, a visão planetária. 

O manuscrito de Álvaro Velho do Barreiro referente à primeira viagem de Vasco da Gama à Índia constitui um dos documentos cimeiros dessa literatura, não só pelo seu carácter precursor do género literário em si, como também pela vibrante e sedutora originalidade com que o mareante nos relata aquela que foi uma das maiores aventuras da história da humanidade. Através de uma ardente auscultação da realidade e transposição da matéria observada e vivida para um modelo discursivo inédito Álvaro Velho afasta-se em absoluto do abstracto e da alegoria para se tornar repórter de acontecimentos quotidianos por si vividos. Definitivamente para trás ficam narrativas onde a concepção ptolemaica do mundo fazia aos Velhos do Restelo, parecer distante, mesmo inatingível, a conquista dos mares "Ainda além da Taprobana" e o alcançar de terras "Em busca da espiçiaria".

A forma notável como através de um discurso onde pontuam escassos ornatos subjectivos, Álvaro Velho, numa correcta adequação cronológica, conseguiu a convergência de questões de natureza antropológica, socioeconómica, etnográfica, psicológica e científica, faz com que ainda hoje os seus textos se mostrem atraentes e imprescindíveis. Foi o seu posicionamento como observador constante e testemunha participativa que lhe permitiu optar por um tipo de escrita sem precedentes onde a noção de espaço e de tempo se assumem como categorias nucleares para uma objectividade de pensamento emergente da desestruturação do sistema e da cosmovisão medievais. Alguns consideraram como fraco o estilo literário usado por Álvaro Velho. No entanto, o manuscrito do mareante da odisseia gâmica deverá analisado mais por aquilo que configura na história de Portugal do que pela componente estética. Fazendo o seu enquadramento dentro de uma ideologia de aventura e conquista do futuro cuja acção o autor, é lícito admiti-lo, deveria estar a sentir em alto grau, não será erróneo inferir que a sensibilidade de Álvaro Velho se tenha deliberadamente concentrado mais na essência noticiosa dessa mesma acção do que na forma léxico-gramatical da sua redacção. Uma sensibilidade voltada, pois, para os factos concretos como consequência de providencial apelo interior a um método cognitivo. Este tendo como objectivo a apreensão e registo da realidade factológica que acompanhasse a estratégia de vanguarda da grande e vertiginosa aventura humana levada a cabo pelos Portugueses no seu desígnio de, através da expansão de um processo mercantilista, criar o Estado Ecuménico de Deus de que o Rei de Portugal seria o grande impulsionador.

Pelo seu testemunho, único e de vibrante originalidade, o manuscrito de Álvaro Velho, descoberto em 1834 por Alexandre Herculano no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e levado pelo grande historiador para a Biblioteca Pública Municipal do Porto onde se encontra arquivado com o número 804, tornou-se ao longo da história referência preciosa para investigadores das humanidades e das ciências positivas. Cronistas como Valentim Fernandes, Fernão Lopes de Castanheda, Damião de Barros, Gaspar Correia e Historiadores e investigadores como Diogo Köpke, Alexandre Herculano, Franz Hümmerich, Ravenstein, Gago Coutinho, Luís de Albuquerque, Joaquim Barradas de Carvalho e José Caro Proença serviram-se do manuscrito de Álvaro Velho para aturados estudos da épica viagem, que representou simultaneamente o consolidar da ousada conquista dos mares do Atlântico Sul e a destemida incursão no Oceano Índico onde é alcançado o velho e mítico mundo Asiático. 

O notável documento que nos relata a epopeia do Gama tem recebido ao longo da história classificações várias sendo as mais comuns de diário ou roteiro. Quanto à designação de diário de bordo assinale-se que estes são textos onde os pilotos apontam diariamente todas as informações de interesse para a navegação tais como as distâncias percorridas, altura do Sol e das estrelas, estado do mar ou leituras da declinação da agulha, indicadores vários da área onde o navio se encontra, etc. No que concerne à segunda designação, roteiros são textos náuticos de ajuda à navegação que os marinheiros portugueses começaram a escrever no século XV e dos quais se socorriam nas viagens. Nesses textos deveriam estar indicados os principais portos, as distâncias que os separavam bem como acidentes costeiros e linhas de rumo que os uniam, informações essas muitas vezes coligidas para livros de marinharia onde os pilotos podiam encontrar aquilo que lhes interessava para a prática da navegação. 

Álvaro Velho do Barreiro, para além do registo de informações atinentes aos roteiros e aos diários de bordo relata outro tipo de acontecimentos nomeadamente os ocorridos em terra, nos quais tomou parte activa. Refiram-se como exemplo os vários desembarques na ilha de Santa Helena, o pitoresco episódio da aventura de Fernão Veloso, a sua participação na exploração do chamado "Canal Norte da Ilha de Moçambique" ou ainda os importantes acontecimentos a que assistiu na Índia destacando-se entre eles a recepção de Vasco da Gama pelo rei de Calecut. 

Mais correcta será a designação de Jornal. Joaquim Barradas de Carvalho em À la recherche de la Spécificité de la Renaissance Portuguaise diz-nos: "Em primeiro lugar o jornal da Primeira viagem de Vasco da Gama a Índia, em 1497-1499, escrito por Álvaro Velho, certamente o mesmo Álvaro Velho do Barreiro de que nos fala Valentim Fernandes numa das suas descrições" (p.275) e mais adiante: "Enfim, não esquecer que Valentim Fernandes, no fim da sua obra (ps 96 do manuscrito), cita Álvaro Velho, o Álvaro Velho do Barreiro autor do Jornal da primeira Viagem de Vasco da Gama à Índia" (p.339).

Para melhor apreensão da magnitude do manuscrito de Álvaro Velho torna-se pertinente atender à definição de dois conceitos jornalísticos: o conceito de notícia e o de lead. Silva Araújo em "Vamos falar de jornalismo" citando alguns autores apresenta-nos estas definições de notícia: "Narração, na forma mais objectiva possível, de um facto verdadeiro, inédito e de interesse geral (Domenico de Gregorio, Metodologia del Periodismo), " É a comunicação de factos novos surgidos na luta pela existência do indivíduo e da sociedade " (Emílio Dovifat, Periodismo, I vol.), (p42). Fazendo a articulação com a notícia diz-nos o mesmo autor sobre o lead: "A notícia é a narração de um acontecimento. No lead pretende-se dar o mais importante desse acontecimento, respondendo, pelo menos, a quatro perguntas fundamentais: quem foi? o que aconteceu? onde aconteceu? quando aconteceu?", (p49).

Estas definições levam a que o notável documento deva ser considerado como um verdadeiro trabalho jornalístico. Um trabalho escorreito e eficaz pelo modo como informa e cativa. Um marco no processo evolutivo da história da literatura portuguesa.

José Caro Proença na sua notável obra "Encobrimentos nos Descobrimentos" atribui ao manuscrito de Álvaro Velho talvez a mais clarividente classificação. Diz o investigador: "Jornal noticioso, quiçá o seu verdadeiro género literário-semântico" (vol II p13) e mais à frente adianta: "Não existindo outro documento anterior ao mencionado Ms 804, pelo seu género literário muito justamente consideramos o seu autor presuntivo, Álvaro Velho do Barreiro, o precursor do jornalismo moderno, português e universal, emergente das viagens transoceânicas de longa duração e grande extensão" (vol II p18).

Mas, tomando como referência o método de decomposição do manuscrito em excertos noticiosos proposto por José Caro Proença, analisemos alguns dos relatos de Álvaro Velho:

"Partimos de Restelo um Sábado, que eram oito dias do mês de Julho da dita era de 1497, nosso caminho, que Deus Nosso Senhor deixe acabar em seu serviço, Amen".

Nestas escassas palavras Álvaro Velho condensa todos os elementos necessários à notícia. Através de uma notável comunicabilidade fala objectivamente e com verdade de um acontecimento, actual e com interesse, atributos presentes ao longo da empolgante reportagem sobre a odisseia gâmica.
Decomposição da notícia:
Quem foi: Os tripulantes da frota de Vasco da Gama
O que aconteceu: Partiram
Onde aconteceu: Restelo, Lisboa
Quando aconteceu: Sábado, oito de Julho de 1497
Ainda uma outra passagem do manuscrito:
"Em vinte e cinco dias do dito mês de Novembro, um Sábado à tarde, dia de Santa Catarina, entrámos em a Angra de São Brás, onde estivémos treze dias porque nesta angra desfizemos a nau que levava os mantimentos e os recolhemos aos navios".
Fazendo a decomposição da notícia, temos:
Quem: Os marinheiros da frota de Vasco da Gama
O quê: Desmantelaram a nau que levava os mantimentos
Onde: Na Angra de São Brás
Quando: Vinte e cinco de Novembro, Sábado à tarde, dia de Santa Catarina
Nesta notícia, estruturada de uma forma precisa, Álvaro Velho relata-nos um acontecimento que elemento fundamental na política portuguesa: o sigilo. Portugal, como grande nação na vanguarda da investigação científica mantinha particular atenção aos seus segredos. 

Álvaro Velho relata-nos assim a partida de Melinde: 

"E (de Melinde) fomos em leste a demandá-la (Calecut). E aqui é a costa de norte e sul (do mar da Arábia), porquanto a terra aqui faz uma muito grande enseada e estreita, segundo nós achámos notícia, há muitas cidades de cristãos e mouros e uma cidade que se chama Cambaia e seiscentas ilhas sabidas e onde está o mar Ruivo e a casa de Meca".
Quem: Os marinheiros da frota de Vasco da gama
Que: Navegaram em leste
Onde: Mar da Arábia
Quando: Terça-feira, 24 de Abril de 1498
Nesta notícia, mais uma vez objectiva e sucinta, Álvaro Velho faz referência ao rumo tomado pelos navios de Vasco da Gama quando saíram de Melinde. Descreve ainda (achámos notícia, sic.) o que lhe foi noticiado pelo piloto árabe cedido pelo rei de Melinde, o presumível Ahmad Ibn Mãjil, bom conhecedor daquelas paragens.

Se através da análise do manuscrito de Álvaro Velho surge lícito, como procurámos demonstrar, que o referido documento seja considerado o arquético do jornalismo moderno, uma outra correlação se pode estabelecer. A de ter sido o notável documento substrato de um dos maiores monumentos literários da história da humanidade: os Lusíadas. 

Esta forte intuição poderá ser consubstanciada pelo facto de ter Camões frequentado as escolas menores do convento de Santa Cruz, de que seu tio D. Bento de Camões era cancelário da Universidade. Aí, poderá ter tido, tal como outros letrados, a possibilidade de consultar o manuscrito de Álvaro Velho, testemunha participativa da épica viagem de Vasco da Gama.

Esta teoria é defendida com notável brilho por José Caro Proença no seu livro V "Encobrimento nos descobrimentos – Poetização da Viagem de Vasco da Gama à Índia segundo o manuscrito de Álvaro Velho do Barreiro" onde o autor nos propõe uma "adequação semiológica entre os Lusíadas (império dos significantes – principalmente, segundo a edição de Manuel Paulo Ramos) e o entendimento da leitura comparada com o Ms. Álvaro Velho do Barreiro (corpus – território de significados) " (em Memória explicativa e justificativa pIX).

Depois de quinhentos anos o manuscrito de Álvaro Velho do Barreiro, continua imbuído ao mais alto grau de carácter de actualidade e estímulo constituindo marco fundamental na História da Literatura Portuguesa.


Bibliografia
ALBUQUERQUE, Luís de " Relação da Viagem de Vasco da Gama – Álvaro Velho", introdução e notas de Luís de Albuquerque, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Marítimos Portugueses – Ministério da Educação, Lisboa 1989.
CARVALHO, Joaquim Barradas de "A la recherche de la specificite de la renaissance portugaise" Fundação Calouste Gulbenkian, Paris, 1983
SEIXO, Maria Alzira "Poéticas da viagem na literatura", Edições Cosmos, Lisboa, 1998
CRISTOVÃO, Fernando "Condicionamentos culturais da Literatura de Viagens", Edições Cosmos, Lisboa, 1999
BOUCHON, Geneviéve "Vasco da Gama", Lisboa, TerraMar, 1998
SARAIVA, António José ; LOPES, Oscar "História da Literatura Portuguesa", Porto Editora, Limitada, 1976
PROENÇA, José Caro "Encobrimentos nos Descobrimentos" – Livro II, Câmara Municipal do Barreiro,1998
PROENÇA, José Caro "Encobrimentos nos Descobrimentos" – Livro V, Câmara Municipal do Barreiro, 1996
BOND, F. Fraser "Introdução ao jornalismo: uma análise do quarto poder em todas as suas formas", AGIR, Rio de Janeiro, 1962
ARAÚJO, Silva "Vamos falar de jornalismo", Direcção Geral da Comunicação Social, Lisboa, 1988


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Comunicação apresentada no VI Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas,  Rio de Janeiro (8-13 de Agosto de 2001), e publicado nas respectivas Actas. 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

"O MEU CAMINHO" - Soares Teixeira








Negro, és hóspede do pensamento. Talvez quilha de navio a sulcar a superfície da consciência. Lá em baixo anémonas e corais ondulam no olhar. Alguns peixes também. No reino das estátuas submersas há harpas mudas no cimo de precipícios e ânforas a espalhar azeite destinado a oferendas. Ondulam reflexos de espelhos atravessados por segredos desterrados. Algas enrolam-se à aliança que atravessa o oceano que existe entre as têmporas, que existe entre o horizonte e o mito, que existe entre o nome e a máscara. Solenidade do vazio que regressa à ausência, touro que procura a raça que habitou as primeiras grutas, antiquíssimo porto de manhãs libertas do tempo. Enfeitados de negro os braços penetram no interior do corpo onde tudo é ferozmente íntimo, onde os ossos são mastros de veleiros sem nome, onde o sangue é o eterno meio-dia de um céu sem gaivotas, onde a carne é uma superfície líquida com enseadas no gesto, e onde os músculos são salas de palavras ditas e de palavras não ditas. Diz-me o teu nome para te nomear, negro. Diz-me, negro, o que prometes e de que geografia é feita a tua túnica, a túnica que vestes na tua boda, na boda que celebras com os que aceitam o teu abraço. Se não me disseres como te chamas, se não me disseres uma palavra que seja, então a hora é minha. Subirei os meus degraus de interrogação até que eles se tornem certeza, subirei depois – de uma forma que só eu sei - ao vértice de mim mesmo. Uma última vez chamarei por ti. Uma última vez. Então, se a esse chamamento derradeiro não me responderes, dar-te-ei um nome, dar-te-ei um rosto, e prestar-te-ei culto. Essa é a minha vingança, o meu caminho para os astros.



Soares Teixeira – 14-10-2013
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

"É SEMPRE BOM UM DIA DE SOL INESPERADO" - Soares Teixeira

É sempre bom um dia de sol inesperado; o ar recupera a sua vontade de nos tornar leves e nós recuperamos a vontade de ser seiva dos instantes. É sempre bom sentir a inesperada face de um azul de início e deixar olhares redondos nas coisas simples, que mostram a sua nudez a um sol de Outono que veio de visita. Nesses dias – porque são dias inesperados - os braços mostram a sua condição de pássaros e as pernas a sua vocação musical. É bom caminhar assim, de braço dado com a claridade em que ficamos. Já há folhas a cair das árvores; apanhamo-las com o olhar e fazemo-las obreiras do pensamento. Uma curva, uma pirueta, uma linha recta, uma espiral, agora uma breve brisa e uma ascensão, finalmente a viagem termina e a folha fica tapete à porta do instante. Nesses dias de sol a surpreender as pálpebras apetece não apetecer nada, porque ao sol lhe apeteceu fazer tudo o que nos apeteceria em nós fazer: brilhar inesperadamente.




Soares Teixeira – 07-10-2013

(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 15 de julho de 2013

"ÀS VEZES O INSTINTO INUNDA O INSTANTE" - Soares Teixeira

Às vezes o instinto inunda o instante com a sua própria claridade. A lógica e a razão abandonam a partitura do ser e a melodia passa a ser tocada com estranhas notas, súbitas e nunca imaginadas. Pode acontecer ficarmos frágeis, balbuciando incógnitas e com os passos do sentir um pouco trôpegos. Estamos habituados a alguma segurança íntima e a alguma firmeza nos lábios – nos de carne e nos do pensamento. Às vezes, porém, acontece olharmos; irmos; estendermos os braços; chamarmos, com a mesma certeza com que bebemos um copo de água, mas… depois essa mesma água torna-nos pântano e afundam-nos em nós próprios, na nossa dúvida. Será? Não será? Acreditar? Não acreditar? Que cada um tome o caminho que lhe for mais fácil; há os incondicionais do acreditar e outros nem por isso. Há certo tipo de incidentes com está máquina falível, que somos, que ficam na memória. Há quem depois venha dizer: “tive uma experiência”, os que dirão:”aconteceu-me uma coisa gira” e ainda os adeptos do: ”com essas coisas não se brinca”. Que tem razão? talvez Hamlet, que nos diz lá do seu nórdico castelo: “Ser ou não ser, eis a questão”.




Soares Teixeira – 15-07-2013
(© todos os direitos reservados)

sábado, 13 de julho de 2013

"ENQUANTO O ESPAÇO NÃO NOS RECUPERA" - Soares Teixeira

Enquanto o espaço não nos recupera, recuperemos - a cada amanhecer - o perfume do trigo que somos. Chegará o dia em que sacudiremos os nossos ramos e não os veremos, Olharemos depois o nosso corpo, espantados, e perguntaremos pelas crinas, pelas asas, pelas ondas, pela chuva, pelo vento, pelo vulcão; por tudo aquilo que era a nossa matéria. E agora? Perguntaremos ao nos vermos despojados da metamorfose do quotidiano e do sentir. E agora? Que sou eu sem corpo? Sem aquele corpo que me fazia ser múltiplo, não apenas em pensamento. E agora? Os ossos; a carne; a pele; o gesto e o gosto da vontade concretizada, onde estão? Enquanto o espaço não nos reclama, reclama-nos a intimidade de tudo o nos observa, como se fossemos uma porta por onde é suposto entrar. Cumpre-nos saber abrir essa porta e saber fechá-la – consoante as circunstâncias. É certo que a maçaneta nem sempre é fácil, por vezes mete medo, queima e deixa ferida, morde e deixa a carne exposta. Mas é esta intimidade que nos dá ímpeto bastante para termos ramos, crinas, asas, ondas, chuva, vento e vulcão, em cada célula do sol que habitamos e da lua onde sonhamos.



Soares Teixeira – 12-07-2013
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"O AMANHÃ ESTÁ DISPERSO NA ETERNIDADE" - Soares Teixeira

O amanhã está disperso na eternidade. A barca já navega, rumo ao seu destino – ao teu destino, Luís. Agora o único som é o do diapasão do mistério. Escuto Mozart, enquanto tento reunir algum entendimento disperso. Aqui as coisas continuam como as deixaste; entre palavras, cordeiros e hienas o mundo continuará a girar. Debruço-me sobre mim mesmo para observar alguns promontórios, alguns arquipélagos, algumas aves marinhas. As ausências podem ser uma espécie de presença forte. Acredito que sim. É bom irmos acreditando nalguma coisa que nos ajude a não estar tão ausentes de nós próprios. A música ajuda. Escuto Mozart. A música é aquela pátria onde todos nos reencontramos. Não é necessário estarmos fisicamente perto uns dos outros para, através da música, apertarmos a mão, sorrirmos, partilharmos o olhar e aceitarmos a intromissão dos pássaros. Não me passa pela cabeça fazer outra coisa senão escrever estas linhas e escutar música. Evidentemente que compreendes. É um concerto de piano, a minha companhia - obviamente piano. Escolhi Mozart por uma razão psicológica e sensorial; preciso de claridade. Há uma certa linha comprida e clara que às vezes se torna necessária, como um fio que nos ajude a chegar a qualquer lado, a sair de um qualquer labirinto ou simplesmente que nos una a algo que está longe mas com uma proximidade latente. Evidentemente que entendes. Dá-me um abraço. Um beijinho à Hermínia, um abraço ao Ricardo. Até um dia.



(singela homenagem a Luís Manuel Sande Freire, que se ausentou deste mundo a 12 de Julho de 2013, aos 80 anos - um grande Amigo)

Soares Teixeira – 12-07-2013
(© todos os direitos reservados)


quinta-feira, 11 de julho de 2013

"LENTO O SOM PROPAGA-SE" - Soares Teixeira

Lento o som propaga-se, quase resto de eco, quase silêncio. Ouve-se ainda, mas muito pouco. Dói. Na planície derradeira, árvores translúcidas ladeiam uma flor de caule quebrado. Aguardam que o tempo vivido seja tempo convertido em novo lírio. Tudo está recolhido dentro de si mesmo, numa ordem própria do destino. O som, talvez de sino, quase desligado da realidade é, contudo, um sulco de arado no sentir. Prepara-se a hora nova, preparam-se as novas águas, prepara-se o reencontro. Uma flauta e um pano de linho estão suspensos, junto da flor no limiar do eterno. Aguardam o momento em que hão-de receber a nudez do espírito. Lento, o som quase não existe, apenas a sua distância nos é frontal. Lento, o som quase se converte num rumor de ondas de um mar desconhecido, a bater no casco de uma barca que aguarda pela viagem. Toda a inteireza do enigma observa o tudo rente ao nada, o nada rente ao tudo. No caule quebrado da flor está um embrião de unidade. Tudo tão frágil. Ainda habitas a matéria, Luís – e amanhã?



Soares Teixeira – 11-07-2013
(© todos os direitos reservados)


terça-feira, 9 de julho de 2013

"O INSECTO VOOU" - Soares Teixeira

O insecto voou. Com ele voou também o olhar que se detivera na pequena criatura. E o instante, suspenso, recomeçou; o insecto voltou a ser uma princesa encantada e o olhar que o olhava viajou para uns lábios com sede de poema. O tempo sorri, enquanto caminha, passeando a sua nudez. Sim, porque o tempo está nu (nunca teve tempo para se vestir). E sorri, porque gosta de estórias em que princesas encantadas olham com os seus grandes olhos de libélula para olhos abertos a outros mundos. Entretanto há uns lábios que se tornam asas, viajam pelas veias e saem pelos dedos; lábios transformados em palavras encantadas que se espalham como pequenas libélulas.



Soares Teixeira – 09-07-2013

(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 8 de julho de 2013

"HÁ NAS COISAS VULGARES UMA RARA COR QUE AS ATRAVESSA" - Soares Teixeira

Há nas coisas vulgares uma rara cor que as atravessa. Às vezes a excessiva proximidade não nos permite ver a coluna, apenas a sua sombra. E quantas vezes a essa coluna que não vemos segue-se outra, e a esta outra ainda, e todas elas formam um templo feito à nossa medida, mas do qual não vemos mais do que a sombra de uma coluna - uma única sombra, que nos pode parecer estrangeira. Às vezes vale a pena não guardar o gesto e estender a mão para a sombra que nos observa. Às vezes quando o passado parece ser uma nostálgica sombra derramada pelos passos eis que – rara – surge a cor de uma coisa vulgar que invoca esta coisa vulgar que somos. Às vezes há pessoas invulgares; têm o hábito de não ser estrangeiras perante as flores.



Soares Teixeira – 08-07-2013

(© todos os direitos reservados)

"HÁ SEMPRE UM LÁPIS" - Soares Teixeira

Há sempre um lápis na ponta do grito que desenha uma nova madrugada. Há sempre um lápis de cabeça erguida e braços abertos ao horizonte. Há sempre um lápis numa enseada de futuro. Há sempre um lápis dentro de uma paisagem, ou de uma palavra; à espera dos dedos que habitam o olhar dos inquietos. Há sempre um lápis pronto para ser a viagem dos iniciados na arquitectura das esferas. Houve um lápis em Tebas, houve um lápis em Atenas. E o lápis de Lisboa? Aquele que saiu do Tejo e traçou o jamais imaginado? Há sempre um lápis de veias, sangue e vontade, há sempre um lápis a reinventar o mundo, há sempre um lápis no alimento do Ser. “Sou um vestíbulo do impossível um lápis de armazenado espanto…”, diz Natália Correia. É bom atravessar os dias como um lápis, neles escrever: ar, mar, amar - e por aí navegar. Ir, partir, de noite ou de dia. Ir… porque o sonho não se gasta e se se gastar, temos a poesia para o afiar.



Soares Teixeira – 08-07-2013

(© todos os direitos reservados)

sábado, 6 de julho de 2013

"INCÓMODO" - Soares Teixeira

Incómodo. Há um excesso de pequenez a respirar os meus instantes. Observo-a. Anda por aí a sobrar do espaço e a invadir a festa alheia; a minha festa, para a qual apenas convidei aves migratórias. Que quer essa asa incompleta, encurralada na ambição de sobrevoar as lonjuras? Na minha festa bebe-se azul por cálices de transparência e comem-se pequenos pedaços de sol molhados em horizonte; na minha festa escuta-se música tocada pelo vento em instrumentos feitos de praias, árvores e montes, e ao som dessa música eu e os meus convidados dançamos, apenas vestidos de leveza. Consinto que alguns centauros a tocar flautas e acompanhados por duendes a fazer soar címbalos e pandeiretas invadam a minha festa, permito também que algumas gotas de orvalho rolem entre os meus convidados. O que eu não tolero é a intromissão de uma pequenez que nem sequer merece ser nomeada. Enxoto-a. Vai-te!



Soares Teixeira – 06-07-2013
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"O VENTO NÃO DÓI NOS GRANDES VELEIROS" - Soares Teixeira

O vento não dói nos grandes veleiros; empurra-os para a descoberta de si mesmos e do seu lugar no horizonte. Nos dias carregados de azul o vento não dói nos grandes veleiros, nos dias carregados de cinzento o vento não dói nos grandes veleiros. Os grandes veleiros só sentem dor quando não há vento porque a calmaria é que dói; com a calmaria os grandes veleiros tropeçam na sua imobilidade, deixam de se procurar, e são estranhos perante o horizonte. Os desafios, as contrariedades e os infortúnios, tornam fortes os mastros, as velas, as proas, os cascos e as quilhas dos grandes veleiros. Praias distantes; ilhas remotas; promontórios de assombro; Fogos de Santelmo; auroras boreais; sereias; mitos; monstros, não se vêm, não se alcançam, não se vivem, com calmarias. Os grandes veleiros sabem que a dor não dói porque o que importa é a viagem. Essa é a grande lição que os grandes veleiros dão aos outros.



Soares Teixeira – 05-07-2013
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quinta-feira, 4 de julho de 2013

"A PELE É UMA PLANÍCIE ONDE O AR CRESCE" - Soares Teixeira


A pele é uma planície onde o ar cresce, quente. Ao longe a fonte de onde apetece beber. Ao meu lado um pássaro, à sombra, tem as asas que me apetecia ter. Mansidão total de horas lentas. As únicas criaturas inquietas são duas vogais que se afastam e atraem; vão para dentro de si mesmas até quase desaparecerem no vazio, depois expandem-se até se tornarem num universo. Porquê? Será essa a sua condição? Será que brincam? Qual será a verdadeira natureza dessas vogais? Sinto-as íntimas dos meus dentes, do meu sangue, do meu olhar, do meu suor, do meu desejo. O Sol aquece. As vogais vão junto do pássaro que está à minha esquerda, roubam-lhe as asas e voam – juntas, rumo à fonte. Lá vou eu.  


Soares Teixeira – 04-07-2013
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quarta-feira, 3 de julho de 2013

"ENQUANTO OS DEUSES DORMEM O SONO DOS JUSTOS" - Soares Teixeira


Enquanto os deuses dormem o sono dos justos, ao Sol nunca lhe pesam as pálpebras. Sinto-me amanhecer nestas palavras que vejo correr dentro de mim. Gosto disso. “Amanhecer é sempre uma bênção”, oiço o horizonte dizer. Respiro fundo estas outras palavras. Respiro-as porque acredito nelas e porque, lá no fundo, sinto que elas acreditam em mim. Há um certo tipo de leveza que me aproxima da matéria dos sentimentos. Sim, porque os sentimentos têm matéria. Acham estranho? Então perguntem aos rios, que são sentimento, se têm ou não têm matéria, e perguntem depois à Alegria se é ou não um rio. Se tiverem dificuldade em encontrar a Alegria, contemplem o amanhecer. Estou a falar, primeiramente, para mim mesmo - é óbvio. Para a roda que sou; o eixo, os raios e o resto. Mas falo também - é claro - para outros; outras rodas desta quadriga conduzida pelo Sol.


Soares Teixeira – 03-07-2013
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sexta-feira, 7 de junho de 2013

Junho está estranho








Junho está estranho. Apetece-me Bach. Não apenas escutar Bach mas emergir da música do Mestre e ir ao encontro de lugares iniciais. Lugares de mistério e sossego situados entre galáxias longas e lentas, como flores de tédio. Apetece-me ficar na proa do navio da música de Bach e deixar-me ir no poema dos sons. Apetece-me abrir os braços à claridade da grande música e ser apenas espírito. Prescindo de tudo o que ornamenta a vaidade dos bichos menores e prescindo até desses mesmos bichos. Prescindo mesmo do meu baú de sonhos. Apenas música, só música, como alimento e viagem.

domingo, 23 de setembro de 2012

Elsa Rodrigues dos Santos



Elsa Rodrigues dos Santos deixou-nos. Mudos e petrificados ainda estamos no aconchego do seu sorriso, ainda caminhamos dentro do seu olhar, ainda nos erguemos ao escutar o timbre da sua voz. Deixou-nos a grande matriarca, a incansável líder, a imensa coluna, a amiga, a sábia. E agora? agora somos pedaços de abóbada a cair. Olhamos em volta, estendemos as mãos e ela já não existe para nos receber e nos amparar. E agora? agora ficámos aquém de nós mesmos, a palpitar nervosamente no desalento. E agora, as nossas asas?
Adeus minha querida Amiga. Fizeste-nos felizes. Agora está frio.
Adeus.


Soares Teixeira

sábado, 21 de novembro de 2009

Ruy de Carvalho

Conversei com o Mestre. Ouvi-o falar, com aquela sua voz que permanece como um sino que se alonga na distância para possuir o que estão à espera de um instante mais puro. Foi no Martinho da Arcada, na passada quinta-feira. Uma noite diferente. Um jantar de tertúlia em que soube bem estar ali, a renascer da linha do meu sereno contentamento. Foi bom ter dito ao Mestre: "Foi por sua causa que fui estudar Teatro no Conservatório Nacional".


Soares Teixeira