O vento não dói nos grandes veleiros; empurra-os para a descoberta
de si mesmos e do seu lugar no horizonte. Nos dias carregados de azul o vento
não dói nos grandes veleiros, nos dias carregados de cinzento o vento não dói
nos grandes veleiros. Os grandes veleiros só sentem dor quando não há vento
porque a calmaria é que dói; com a calmaria os grandes veleiros tropeçam na sua
imobilidade, deixam de se procurar, e são estranhos perante o horizonte. Os
desafios, as contrariedades e os infortúnios, tornam fortes os mastros, as velas,
as proas, os cascos e as quilhas dos grandes veleiros. Praias distantes; ilhas
remotas; promontórios de assombro; Fogos de Santelmo; auroras boreais; sereias;
mitos; monstros, não se vêm, não se alcançam, não se vivem, com calmarias. Os grandes
veleiros sabem que a dor não dói porque o que importa é a viagem. Essa é a
grande lição que os grandes veleiros dão aos outros.
Soares Teixeira – 05-07-2013
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