sábado, 17 de agosto de 2024

MAÇÃ - SOARES TEIXEIRA

 

MAÇÃ - SOARES TEIXEIRA



MAÇÃ

 
Ergue-se das águas do Tejo
uma maçã de horizonte.
Numa turbulência de olhar,
estendo os braços
e apanho o fruto da árvore do tempo.
 
Uma dentada, depois outra,
e já sou vento
a soprar sobre os dias em que fui
navegante,
proa de chegada e de partida.
 
Tejo
meu rio de respiração milenar,
tantas vezes de ti me despedi,
tantas vezes este renascer
nas tuas veias.
 
 
Soares Teixeira 
(© todos os direitos reservados)




quinta-feira, 8 de agosto de 2024

ALMA MINHA GENTIL QUE TE PARTISTE - LUÍS DE CAMÕES - SOARES TEIXEIRA

 



ALMA MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE


Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

LUÍS DE CAMÕES




terça-feira, 23 de julho de 2024

MARIA JOÃO PIRES - 80 - Soares Teixeira

 




MARIA JOÃO PIRES  - 80
 
80 poemas
80 mãos que voam
80 flores que dançam
em música saúdam Maria,
- João Pires, acrescenta
um pardal saltitando,
e uma gota de orvalho sorri
 
A sair do pêssego da sua música
Mozart surge,
estende a mão,
e o pardal poisa-lhe nos dedos
 
Um rio faz-se piano
e, em silêncio,
todos escutam Maria
- Parece acabada de nascer,
murmura uma árvore
- João Pires, diz o pardal,
que voa para o teclado
levando Mozart consigo
 
80 poemas
80 mãos que voam
80 flores que dançam
canta o mundo,
com voz
de gota de orvalho
 
 
Soares Teixeira – 23 de Julho de 2024
- nos 80 anos de Maria João Pires-
(© todos os direitos reservados)



quinta-feira, 18 de julho de 2024

APENAS MIÚDOS - PATTI SMITH - SOARES TEIXEIRA

 

Leitura expressiva de parte do Primeiro Capítulo do livro "APENAS MIÚDOS", de Patti Smith





'APENAS MIÚDOS', de Patti Smith, é o fascinante retrato de uma época e uma tocante história de dois jovens - Patti Smith e Robert Mapplethorpe - com grande cumplicidade de sonhos e lutas.


sábado, 29 de junho de 2024

O PAI - ADÉLIA PRADO - SOARES TEIXEIRA



O PAI

Deus não fala comigo
nem uma palavrinha das que sussurra aos santos.
Sabe que tenho medo e, se o fizesse,
como um aborígine coberto de amuletos
sacrificaria aos estalidos da mata;
não me tirasse a vida um tal terror.
A seus afagos não sei como agradecer,
beija-flor que entra na tenda,
flor que sob meus olhos desabrocha,
três rolinhas imóveis sobre o muro
e uma alegria súbita,
gozo no espírito estremecendo a carne.
Mesmo depois de velha me trata como filhinha.
De tempestades, só mostra o começo e o fim.

Adélia Prado

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Biografia de Adélia Prado:
Adélia Luzia Prado de Freitas (Divinópolis, 13 de dezembro de 1935) é uma poetisa, professora, filósofa, romancista e contista, ligada ao Modernismo. Considerada a maior poetisa viva do Brasil.
Sua obra retrata o cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único. Em 1976, enviou o manuscrito de Bagagem para Affonso Romano de Sant'Anna, que assinava uma coluna de crítica literária no Jornal do Brasil. Admirado, acabou por repassar os manuscritos a Carlos Drummond de Andrade, que incentivou a publicação do livro pela Editora Imago em artigo do mesmo periódico.
Professora por formação, ela exerceu o magistério durante 24 anos, até que a carreira de escritora tornou-se a atividade central. Em termos de literatura brasileira, o surgimento da escritora representou a revalorização do feminino nas letras e da mulher como ser pensante, tendo-se em conta que Adélia incorpora os papéis de intelectual e de mãe, esposa e dona-de-casa.
Em 2024, tornou-se a terceira escritora brasileira (e primeira escritora mineira) a vencer o prêmio Camões em 35 anos.

Fonte dos elementos biográficos de Adélia Prado:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ad%C3%A9lia_Prado

 


quarta-feira, 26 de junho de 2024

TERTULIANDO - SOARES TEIXEIRA

 



LIVRARIA SNOB

Foto tirada por mim, hoje, no pátio da Livraria Snob, em Lisboa

TERTULIANDO
 
Palavras a fazer de pássaros
dizem adeus aos lábios dos poetas
e viajam sobre superfícies
que parecem banais
 
Assim, uma parede estende os braços
porque por ela se espalham voos de aves
e uma outra veste-se de sílabas
da cabeça aos pés
- este o mistério das palavras dos poetas;
ângulos diversos, diversas pulsações do sentir,
diversos mundos a aderir ao corpo,
transformam o banal em balcão de bar
onde copos se inclinam para a boca
enquanto paredes descobrem novas posições
para fazerem amor com o que ninguém vê
 
Tertuliando se fazem jangadas
que avançam pelos mares
onde cachos de uvas caem de nuvens
que adivinham desassossegos de instintos,
próprios daqueles que buscam por dentro
novas geografias
e por fora se deixam ser
baía de descobertas alheias
 
Um triângulo de céu pode conversar com plantas
em vasos pendurados numa parede?
Claro que pode – tudo é poesia -,
tudo depende da visão da roda do leme
que preside aos sentidos,
 

Pobre parede com três tristes linhas de grades,
deixa que em ti entrem palavras a fazer de pássaros,
recebe os sons, os sentires, o céu
Às vezes sou como tu, alta parede em solitária solidão,
mas isso é às vezes
hoje não
hoje, em palavras,,
vou,
 marítimo,
pelo oceano de astros onde caio

 
 
Soares Teixeira – 26 de Junho de 2024
(© todos os direitos reservados)




domingo, 16 de junho de 2024

A MARIA QUINTANS - SOARES TEIXEIRA

 

MARIA QUINTANS


A MARIA QUINTANS
 
Lembro-me
daquela altura
em que começámos a falar de coisas
para lá do alumínio das fôrmas
onde íamos ao forno
 
Falávamos de Ilhas de Tesouros
onde se chegava em jangadas
feitas de rosas e desassossegos
e onde praias de palavras nos convidavam
a ser a propagação de um resto
de nós mesmos
Dedicar-nos-íamos à pirataria;
os nossos sonhos adormecidos
seriam saqueados das suas
casas fechadas
e levados para navios voadores
com velas de chuva e relâmpagos.
Beberíamos ventos, riríamos com os golfinhos
e os nossos brincos seriam os assobios
de outros como nós
 
Quando assim, solares, saíamos do peito,
éramos pombas
capazes de cortar o arame farpado
de quaisquer horas aprisionadas
 
Soube que te entrelaçaste
com a hera de uma noite súbita
 
Incrédulo e em cinza
molho os lábios com silêncio
e aceno-te com um ramo de oliveira
 
Adeus, Maria
 
 
Soares Teixeira - 16-06-2024

segunda-feira, 10 de junho de 2024

CAMÕES - 500 ANOS - INAUGURAÇÃO PLACA COMEMORATIVA





 Foto tirada hoje junto da estátua de CAMÕES, em Lisboa, após inauguração da placa comemorativa do V Centenário do seu nascimento. Disse o soneto 'AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER" e agradeci ao Génio.





sábado, 1 de junho de 2024

NO REINO DA ÁGUA O REINO DO VINHO - LUIZA NÓBREGA

 


- Extraído da página de Facebook da Professora Luiza Nóbrega:


Com o consentimento do autor, Soares Teixeira, publico o comentário que ele me enviou, em ressonância à sua leitura do meu livro No Reino da Água o Rei do Vinho. Um texto que me diz mais, e mais me gratifica, do que certos comentários insossos e anêmicos de acadêmicos avaros.
Professora Luiza Nóbrega, já terminei de ler o seu livro ‘NO REINO DA ÁGUA O REINO DO VINHO’ – Submersão Dionisíaca e Transfiguração Trágico-Lírica d’Os Lusíadas. Não terminei de estar com ele porque a enormíssima extensão e qualidade do seu conteúdo tem proporções oceânicas, que obrigam o leitor/viajante a elas regressar – assim o farei; o que ‘ficou’ assim o exige. Estudos desta profundidade e abrangência merecem, e devem, ser alvo de análise por parte de especialistas – o que não é o meu caso. Digo, porém, que em mim o universo de ‘Os Lusíadas’, onde o fascínio da descoberta e o hipnótico encantamento extravasam do sensorial e do temporal, mais se expandiu através da leitura do seu Estudo. A poliédrica transcendência da Obra magna da Língua Portuguesa, tem reflexos sempre insuspeitos, resultado de Camões em ‘Os Lusíadas’ a pretexto de…, ir falar de…, como pretexto para…, e assim nos puxar para uma intensa revolução íntima. Cumpre aos Mestres erguer o facho da luz para mostrar horizontes e propor caminhos; a Professora Luiza Nóbrega em ‘NO REINO DA ÁGUA O REINO DO VINHO’, fê-lo, com brilhante persistência onde proposições e metodologias apelam a competente análise a divulgação visto configurarem-se como prolongamento dos monumentais estudos de Jorge de Sena.
Após viajar pela sua Obra sento-me num penedo junto a um mar revolto. Água. Olho-a. Vejo, revejo. Fundo-me na inquietação do mar e penso. Métrica estrófica em ondulações que se sucede a duas vozes, duas faces, onde o aparente faz apelo ao labiríntico; vários eixos temáticos, que como colunas ligam profundezas de mar e céu, claro e escuro, realidade e ficção; semântica que tem de se beber lentamente depois de colhidas as uvas a descobrir; o Poeta, o homem, as personagens, os mitos, as metamorfoses; as palavras e as suas ressonâncias, o que é convés e o que vai nos porões, o que é quilha e o que é vela, o que é rasto e o que é além; inspiração, desafio, vingança, violência, astúcia, sofrimento; forja de prazeres e contraditórios, interminável rio de águas trágicas e líricas, juntas num só caudal; desejada parte oriental, desejado grito, desejada justiça; veículo de exaltação nacional, de crítica política e social, de relativismo, de sortilégio, veículo de uma voz de aurora e crepúsculo, veículo de tempos; forças a serem medidas com o Outro e a propagar(em)-se pelo(s) grande(s) teatro(s) do(s) mundo(s). E sempre mais…, o além… Leio, navego, ondulo, perco-me, volto atrás, medito, penso, questiono e questiono-me, uma e outra vez, procuro rumos, fecho os olhos, lembro-me de muita coisa que aprendi; da vida, de mim, do Oficial Engenheiro Maquinista da Marinha Mercante que fui - isso recordo até não sei que que mar, que dor azul (minha e de tantos). Queria ser objectivo, Professora Luiza Nóbrega, queria, pelo tanto que me deu através do seu estupendo livro, ser a(s) palavra(s) que o autor espera do leitor. Fico incomodado por este meu aquém, que não é de forjar elegâncias - e tal seria inútil ante a perspicácia de quem voa sobre as mais altas cordilheiras. No saquinho de couro que trago preso à cintura de humilde marinheiro tenho para lhe dar um ‘Parabéns’, um ‘Obrigado’, e uma palavra em branco onde cabe toda a sorte do mundo.
Camões, tu dóis-me por estares tanto aqui, quase quebras os ossos das mãos daqueles que puxas contra o peito das tuas palavras, contra o teu peito. Ainda bem que há gente que te segura no rosto, te observa com amor e te procura entender e dar a entender porque és sangue do nosso sangue e alma da nossa alma. Soares Teixeira.



terça-feira, 21 de maio de 2024

O POETA, MANUEL ALEGRE - SOARES TEIXEIRA

 




“O POETA”
 
Ele aprendeu o preço exato da canção.
Seus pulsos estão abertos e a vossa boca bebeu
o sangue puro de uma vida.
Que mais quereis de um homem?
Vós não podeis roubar-lhe esse luar na alma.
Vós não podeis mais nada. É um homem a cantar
Um homem que sorriu aos tambores noturnos
dos vossos cárceres depois cantou
de pé no seu poema.
 
Vinde com vossas leis e vossas máscaras
vossas palavras cheias de fantasmas.
Nada podeis. O medo nunca pôde nada.
Vós não podeis despir um homem que está nu.
 
Pendurai-lhe no sexo uma coroa de espinhos
ele fará na própria dor um filho mais robusto
porque ele é pai de alegria
ele povoa a solidão de raparigas
as suaves raparigas que trazem no ventre
a cidade dos homens.
 
Vinde com vossas máscaras e vossos tribunais
e os mortos-vivos que recitam os parágrafos
do livro das sentenças.
 
Vós não podeis mais nada. É um homem a cantar
um homem que está nu com todos os seus músculos
a soluçar numa guitarra destroçada
e todavia iluminada e viva.
Um homem que sorriu aos tambores noturnos
dos vossos cárceres depois cantou
de pé no seu poema.
 
Vós não podeis mais nada.
É um homem que merece a poesia.
 
 
Manuel Alegre
in, "Praça da Canção"




domingo, 12 de maio de 2024

25 ABRIL 50 ANOS 50 POETAS - SOARES TEIXEIRA

 



25 ABRIL 50 ANOS 50 POETAS - Minha homenagem aos 50 anos do 25 de Abril, a Salgueiro Maia, à Liberdade, à Diversidade, à Poesia. Também a Luís de Camões, nos 500 anos do seus nascimento.


terça-feira, 7 de maio de 2024

NONA SINFONIA DE BEETHOVEN - 200 ANOS



A 7 de Maio de 1824 - cumprem-se hoje 200 anos - estreou-se em Viena a Nona Sinfonia de Beethoven. Esta revolucionária Sinfonia nº 9 foi um sucesso imediato e continua a ter uma enorme relevância em todo o mundo. O tema do último andamento, que recebe o nome de "Ode à Alegria", foi rearranjado pelo maestro Herbert von Karajan para se converter no hino da União Europeia. A Nona Sinfonia de Beethoven (1770-1827), foi a primeira obra musical a ser incluída pela UNESCO na Lista da Memória da Humanidade. A partitura original da Nona Sinfonia é igualmente Património Cultural da Humanidade. Aquando da sua estreia já Beethoven se encontrava completamente surdo ( em 1814 deixou de se apresentar em público, não tendo sido solista do seu famoso concerto de piano conhecido como 'O Imperador' ). O desespero do grande Génio musical ficou bem expresso no famoso Testamento de Heiligenstadt. A história diz-nos que Beethoven dividiu a regência com o maestro indicado para conduzir a orquestra (que tinha indicações expressas para ignorar o compositor), e que quando a sinfonia terminou ainda Beethoven estava a reger, tento sido interrompido por uma cantora que lhe tocou no ombro. O público aplaudia freneticamente e agitava lenços - para que Beethoven se apercebesse do seu sucesso, já que não podia ouvira a estrondosa e prolongada ovação. Diz-nos ainda a história que Beethoven saiu do Teatro profundamente comovido. No Filme biográfico "Minha Amada Imortal", de 1994, que conta a história do Génio de Bona, é particularmente emotivo o episódio a que me refiro. Hoje foi o ponto alto das celebrações da importante efeméride, nomeadamente em Viena e Bona. Há uns anos, em Bona, visitei demoradamente a Casa Museu onde nasceu o Génio e terminei a visita num estúdio onde, através de uns auscultadores, escutei a Nona e outras obras do Mestre, grande parte do tempo a olhar para a janela do quarto onde Beethoven nasceu, que tem no centro uma coluna com o seu busto e a cuja entrada - vedada por um cordão - prestei homenagem colocando um joelho no chão, de cabeça baixa (não fui o único).  

 

quarta-feira, 27 de março de 2024

HARPA - SOARES TEIXEIRA

 

HARPA - SOARES TEIXEIRA

 

HARPA
 
Teatro…,
laranja em  chamas que atirei para longe,
outros que quis fora de mim
antes que em mim fossem arestas cortantes,
taça cheia de um espaço
onde vi a capital do meu imaginário
desfazer-se num exílio de brumas,
pantera e planície
que o relâmpago separou.
Não lamento…,
ignoro quem seria aquele que não fui
e nem sequer o quero ver no avesso
da minha imagem reflectida num espelho,
o que foi, foi,
e o que sou é este e não outro.
Num verso…,
aí consinto que vinho e sangue
venham de um lugar longínquo e se entranhem
na harpa com que respiro as palavras,
aí, e só aí,
me permito asas para ser alcoólico
de azuis desassossegados
 
 
Soares Teixeira – 27 de Março de 2024
- Dia Mundial do Teatro -
(© todos os direitos reservados)


quinta-feira, 21 de março de 2024

DIA DA POESIA - POETRY DAY - SOARES TEIXEIRA

 

DIA DA POESIA

DIA DA POESIA
 
 
“Hoje é o dia da Poesia”,
disse uma árvore, logo pela manhã,
estendendo demoradamente todos os ramos
que assim abraçaram
os ramos de outras árvores,
que por sua vez foram repetindo
os mesmos gestos e as mesmas palavras
 
Foi uma onda de saudações e abraços que partiu
de uma árvore, no centro da floresta,
e se propagou para lá do verde;
até aos rios, e para lá dos rios,
até às montanhas, e para lá das montanhas,
até aos campos, e para lá dos campos,
até às pessoas, e para lá das pessoas
 
Poesia…, Poesia…, Poesia…,
foi a palavra com maior eco,
a que ficou a soar por todas as lonjuras,
e por isso a mais ouvida
Poesia…, Poesia…, Poesia…,
foi o véu que voou pelos espaços,
e se tornou o cântico da diversidade
 
Os astros observaram
a nova luz que envolveu a Terra,
e chegou-lhes esse eco longínquo, mas claro:
Poesia…, Poesia…, Poesia…,
e deram abraços secretos, repetindo:
Poesia…, Poesia…, Poesia…,
até ao infinito
 
 
 
Soares Teixeira – 21 de Março de 2024
(© todos os direitos reservados)


POETRY DAY


"Today is Poetry Day",
said a tree early in the morning,
lengthily extending all the branches
which then embraced
the branches of other trees,
which in turn repeated
the same gestures and words
 
It was a wave of greetings and hugs that began
from a tree in the centre of the forest,
and spread beyond the green;
to the rivers, and beyond the rivers,
to the mountains, and beyond the mountains,
to the fields, and beyond the fields,
to the people, and beyond the people
 
Poetry..., Poetry..., Poetry...,
was the word with the greatest echo,
the one that rang out far and wide,
and therefore the most heard
Poetry..., Poetry..., Poetry...,
was the veil that flew through space,
and became the song of diversity
 
The stars observed
the new light that enveloped the Earth,
and this distant but clear echo reached them:
Poetry..., Poetry..., Poetry...,
and they gave each other secret hugs, repeating:
Poetry..., Poetry..., Poetry...,
to infinity

© Soares Teixeira 


terça-feira, 19 de março de 2024

A NUNO JÚDICE - SOARES TEIXEIRA

 

NUNO JÚDICE







A NUNO JÚDICE
 
 
O poema vai-se entranhando debaixo das unhas
quando, sem idade, enterramos as mãos
na areia quente das palavras
 
sentimo-nos acontecer, mais do que nunca,
naquela praia, onde o sol e o mar nos saúdam
e um pequeno caranguejo nos observa em silêncio
 
dentro de cada página, mundos parecem acontecer
pela primeira vez, a cada instante,
como explosões de libélulas de todas as cores
 
o rio surge de dentro do poema e traz-nos o espelho
onde nos vemos reflectidos nas constelações
do cérebro, e para lá ainda; até ao beijo inicial da luz
 
página a página, sentimos urgências, a voar, livres,
e abraços que se requebram em danças antiquíssimas,
e tudo isso em nós, entregue pelo poeta
 
 
 
Soares Teixeira – 19 de Março de 2024
(© todos os direitos reservados)


 

TO NUNO JÚDICE


The poem gets under the fingernails
when, ageless, we bury our hands
in the hot sand of words

we feel like we're happening, more than ever,
on that beach, where the sun and the sea greet us
and a small crab watches us in silence

inside each page, worlds seem to happen
for the first time, every moment, 
like explosions of dragonflies of all colors

the river emerges from within the poem and brings us the mirror
where we see ourselves reflected in the constellations 
of the brain, and beyond; until the initial kiss of light

page by page, we feel urgencies, flying, free,
and embraces that sway in ancient dances,
and all this in us, delivered by the poet



Soares Teixeira






domingo, 10 de março de 2024

LIVRE - SOARES TEIXEIRA

 



LIVRE
 
O tempo passa
e tudo se resume ao som de um sino
que se afasta
deixando para trás
relâmpagos de folhas amarelas,
violinos em fim de tarde
e praias com cada vez menos
conchas de sonhos
 
No entanto,
de uma fogueira marítima,
acesa no íntimo das horas,
chamam-me aves incandescentes
para que a elas me junte
à conquista de nuvens que são ilhas
onde promontórios aguardam
pássaros com nascentes no olhar
 
E eu visto-me de azul
e vou, naturalmente,
sem relógios dentro crânio
ou sombras no peito
vou, apenas,
livre
 
 
Soares Teixeira 



domingo, 25 de fevereiro de 2024

CONGRESSO DO MEIO MILÉNIO DE CAMÕES EM MACAU

 



Dias 24 e 25 de Fevereiro de 2024 teve lugar o "Congresso Internacional do Meio Milénio de Camões"- Rede Camões Ásia e África. Este foi um evento da Fundação Rui Cunha, sediada em Macau. Os organizadores e participantes estão de parabéns. Prometia-se uma reunião científica com um núcleo de grandes especialistas e assim aconteceu. Participei como assistente, por zoom. O convite foi-me gentilmente endereçado por Filipe Saavedra, da Comissão Coordenadora do Congresso. 


 


domingo, 18 de fevereiro de 2024

CREPÚSCULO - CREPUSCLE - SOARES TEIXEIRA

 

CREPÚSCULO - CREPUSCLE


CREPÚSCULO
 
Despeço-me do sol,
silenciado pelo seu adeus
e na minha testa
há uma abelha quieta
 
Algumas arestas
vêm beber do meu pensamento;
olho-as
através de uma porta que se abre
 
A noite será bosque
e eu, ignorante dos caminhos,
procurarei refúgio
numa choupana de astros
 
 
Soares Teixeira 

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CREPUSCLE
 
I say goodbye to the sun,
silenced by its farewell
and on my forehead
there's a quiet bee
 
Some edges
come to drink from my thoughts;
I look at them
through a door that opens
 
The night will be forest
and I, ignorant of the ways,
will seek refuge
in a hut of stars


Soares Teixeira 







terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

'MOTIVO' - CECÍLIA MEIRELES

 



“Motivo”

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Cecília Meireles