domingo, 16 de junho de 2024

A MARIA QUINTANS - SOARES TEIXEIRA

 

MARIA QUINTANS


A MARIA QUINTANS
 
Lembro-me
daquela altura
em que começámos a falar de coisas
para lá do alumínio das fôrmas
onde íamos ao forno
 
Falávamos de Ilhas de Tesouros
onde se chegava em jangadas
feitas de rosas e desassossegos
e onde praias de palavras nos convidavam
a ser a propagação de um resto
de nós mesmos
Dedicar-nos-íamos à pirataria;
os nossos sonhos adormecidos
seriam saqueados das suas
casas fechadas
e levados para navios voadores
com velas de chuva e relâmpagos.
Beberíamos ventos, riríamos com os golfinhos
e os nossos brincos seriam os assobios
de outros como nós
 
Quando assim, solares, saíamos do peito,
éramos pombas
capazes de cortar o arame farpado
de quaisquer horas aprisionadas
 
Soube que te entrelaçaste
com a hera de uma noite súbita
 
Incrédulo e em cinza
molho os lábios com silêncio
e aceno-te com um ramo de oliveira
 
Adeus, Maria
 
 
Soares Teixeira - 16-06-2024

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