Quase em
murmúrio
a areia da
praia falava
e a nossa nudez
de mar
escutava sem
escutar
porque tínhamos
o sangue
com a cor de um
tempo
quebrado contra
os espaços
um tempo que parecia
ser
não mais que uma
longa vinha
onde aqui e ali
se pressentiam
cabazes de vime
assentes num chão
de nada
um nada muito
antigo
assim era
e em nós
a mão da
palavra escrevia
e a linguagem era
a do gesto
e a página era
o corpo
e tudo o resto
entrava pela
porta aberta
de uma nuvem
casas, camas,
cadeiras
ruas,
automóveis, sinais de trânsito
computadores, telemóveis
pássaros, insectos,
gente,
árvores, rios, montanhas,
praias
mesmo as que
falavam
sim, mesmo
essas
e o beijo selou
a porta fechada
e a nuvem
desapareceu
para dentro de um
cabaz de vime
importante
apenas
era a morada
onde nos abraçávamos
e a morada era o
sol
a palavra com
mão de carícia?
amor
julho, dizia a
areia da praia
assim era
Soares Teixeira – 04-01-2015
(© todos os direitos reservados)
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