domingo, 4 de janeiro de 2015

"ASSIM ERA" - Soares Teixeira





Quase em murmúrio
a areia da praia falava
e a nossa nudez de mar
escutava sem escutar
porque tínhamos o sangue
com a cor de um tempo
quebrado contra os espaços
um tempo que parecia ser
não mais que uma longa vinha
onde aqui e ali
se pressentiam cabazes de vime
assentes num chão de nada
um nada muito antigo
assim era
e em nós
a mão da palavra escrevia    
e a linguagem era a do gesto
e a página era o corpo
e tudo o resto
entrava pela porta aberta
de uma nuvem
casas, camas, cadeiras
ruas, automóveis, sinais de trânsito
computadores, telemóveis
pássaros, insectos, gente,
árvores, rios, montanhas,
praias
mesmo as que falavam
sim, mesmo essas
e o beijo selou a porta fechada
e a nuvem desapareceu
para dentro de um cabaz de vime

importante apenas
era a morada
onde nos abraçávamos
e a morada era o sol

a palavra com mão de carícia?
amor

julho, dizia a areia da praia
assim era




Soares Teixeira – 04-01-2015
(© todos os direitos reservados)

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