terça-feira, 13 de janeiro de 2015

"A SEDE DO POETA" - Soares Teixeira





Quando a sede assola o poeta
a palavra chove-lhe dentro do peito
sente-se o cheiro a terra molhada
e o poema cresce
ao lado das árvores
das folhas caídas e dos insectos

Lá no alto as gaivotas levam-lhe
a camisa as calças e as sandálias
e o poeta vai nu
com os rochedos e o mar e o céu
por única companhia
às vezes um gato sai
do seu corpo
e salta para um astro na mão da noite

quando isso acontece
húmida
a terra
ao assistir ao secreto desdobramento
do poeta
oferece-lhe os seus seios e as suas coxas
e o seu sexo
e diz-lhe
“Cresças em sede
assim na terra como nos céus”



Soares Teixeira – 13-01-2015
(© todos os direitos reservados)

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