Liberdade, saúdo-te como se
crescesse num cravo branco, um grande cravo no alto de um promontório onde se
ouvem as sereias cantar – e que canto… tão próximo da claridade, e da dor.
Liberdade; minha palmeira reflectida em tantos espelhos; meu animal esbelto que
bebe água no lago da luz sempre matinal; meu trigo a cantar chão e céu.
Liberdade, saúdo-te! Daqui, deste promontório onde sou barca que cresce num cravo
branco e aspira voar até à serena navegação entre os astros. Saúdo-te imaculado
clarão inicial, saúdo-te nascente da água que é começo da primeira festa.
Saúdo-te, liberdade para regressar ao magma que fui; à rocha onde me descobri; ao
mar onde me deslumbrei; ao pântano onde lutei; ao prado onde pastei; à árvore
em que me transformei; ao céu para onde voei; às asas onde me demorei. Saúdo-te,
canto e dança do silêncio; saúdo-te, pão e vinho da minha viagem. Saúdo-te! Aberto
como aroma de romã a beber além. Já sem pés onde possa bater o coração da
terra; já sem coxas onde se possam enrolar as ervas dos instantes; já sem
ombros onde possam poisar os olhos das nuvens, saúdo-te liberdade! Já só barca
a ascender à brisa; já só breve toque no belo cravo branco, saúdo-te liberdade!
Saúdo-te liberdade e vou. Vou, até ser procurado por um nome – e de novo
recomeçarei.
Soares Teixeira – 04-08-2014
(© todos os direitos reservados)
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