terça-feira, 5 de agosto de 2014

"SAÚDO-TE LIBERDADE" - Soares Teixeira








Liberdade, saúdo-te como se crescesse num cravo branco, um grande cravo no alto de um promontório onde se ouvem as sereias cantar – e que canto… tão próximo da claridade, e da dor. Liberdade; minha palmeira reflectida em tantos espelhos; meu animal esbelto que bebe água no lago da luz sempre matinal; meu trigo a cantar chão e céu. Liberdade, saúdo-te! Daqui, deste promontório onde sou barca que cresce num cravo branco e aspira voar até à serena navegação entre os astros. Saúdo-te imaculado clarão inicial, saúdo-te nascente da água que é começo da primeira festa. Saúdo-te, liberdade para regressar ao magma que fui; à rocha onde me descobri; ao mar onde me deslumbrei; ao pântano onde lutei; ao prado onde pastei; à árvore em que me transformei; ao céu para onde voei; às asas onde me demorei. Saúdo-te, canto e dança do silêncio; saúdo-te, pão e vinho da minha viagem. Saúdo-te! Aberto como aroma de romã a beber além. Já sem pés onde possa bater o coração da terra; já sem coxas onde se possam enrolar as ervas dos instantes; já sem ombros onde possam poisar os olhos das nuvens, saúdo-te liberdade! Já só barca a ascender à brisa; já só breve toque no belo cravo branco, saúdo-te liberdade! Saúdo-te liberdade e vou. Vou, até ser procurado por um nome – e de novo recomeçarei.


Soares Teixeira – 04-08-2014
(© todos os direitos reservados)

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