segunda-feira, 10 de março de 2014

"NO CASTELO DE GUIMARÃES" - Soares Teixeira







No Castelo de Guimarães
são tantas perguntas em que me transformo
que me acrescento ao granito e nele cresço
e como uma concavidade no espaço e no tempo
na flor do silêncio recebo o olvido
                  ebriedade
Sou o lugar dos nomes míticos
na minha respiração sinto a nitidez
de camadas de alianças e traições
de arcas pejadas de segredos e sangue
de espadas cobertas de cruzes e vozes
Do meu gesto surgem cavalos cobertos de cores
música a bater asas
gritos de estátuas jacentes
coroas a copularem coroas
olhos brasonados a selar pactos com o horizonte
Os degraus e as paredes oferecem-me um ar
que me quer ver
as torres e as ameias passam as mãos pelas minhas
e puxam-me
as portas e as janelas bebem olhares antigos
e olham-me
e os seus olhos são os de um vento carnal
Então foi aqui
digo, enquanto caminho
na longa galeria de mim mesmo
Sim, foi aqui
responde-me uma voz vinda do chão
Aqui Afonso sonhou Portugal



Soares Teixeira – 05-03-2014
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