Abri a porta e saí
e eu sozinho era um cortejo festivo
Para trás deixei gente
que se forçava a acreditar
que amanhã, de si faria
a mais jovem das promessas,
que amanhã, em si seria
a respiração de uma viagem
Amanhã…, sempre amanhã…
amanhã como morada de uma força por acontecer
amanhã como fechadura limpa de ferrugem
amanhã como lugar de searas
Constante criação de amanhãs adiados
Constante morrer de fome por esses amanhãs
Como conheço essa ânsia de pão…
Saí, pois,
como o mais decoroso e indecoroso amante
- a mim me amava!
Extraordinário?
Porquê?
Não me amar seria insultuoso,
seria trair o gesto com que abri a porta
Quis novos pedadagos,
quis novos companheiros,
e fiz dos meus passos, isso que me faltava
Se receava cair, ou perder-me?
Na verdade
para por a salvo os meus dias
qualquer incidente de percurso seria suportável
Familiarizado, que estava,
apenas com metade de mim, ou menos,
a libertação – disso de tratou - não era arrojo,
era desígnio,
não só justo, como urgente
Não tinha a certeza do que teria para escutar
dos meus próprios pensamentos
nem do que teria para lhes dizer
Haveria de descobrir
Afinal, eu era flauta a descobrir horizonte
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Soares Teixeira-14-01-2022
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