sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

"MEDO" - SOARES TEIXEIRA

 

Gosto do infinito

e, de à minha maneira, o imitar

sabendo que jamais o conseguirei

mas hoje não me sinto disponível

para gostar do infinito;

hoje sinto o infinito engarrafado

e não quero imitá-lo,

porque talvez conseguisse


Eu, que gosto tanto do infinito

e, de à minha maneira, o imitar,

mesmo sabendo que jamais passarei

de passos descalços no intervalo

de dois nadas,

hoje sinto-me uma gaveta cheia

de talheres inúteis

porque dentro da minha boca

volumosas grades ocupam todo o espaço


O ar jovem dos instantes não existe,

os lugares estão cabisbaixos, tristes,

as coisas, sem dedos, não me tocam


Sombra que se cansa a si própria

Tempestade a despertar de um sono

Nem as flores são como é seu costume


Gosto do infinito


Gosto de ficar à escuta das respostas

às minhas perguntas,

e hoje isso não é possível

porque não consigo 

escutar essas  respostas,

hoje os sons são outros,

hoje não me consigo ver longe,

naquele ainda muito longe,

naquele longe que nunca chega,

naquele longe que me chama,

naquele longe onde gosto de viajar,

hoje há um peso onde não me aguento

existir


Tenho medo

E eu preciso tanto do infinito


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Soares Teixeira-25-02-2022

(© todos os direitos reservados)


(a pensar na guerra na europa de leste)