Em comum com os pássaros
tenho a forma
quando, como eles,
me estendo pelo horizonte
Houve tempo
em que não tinha a percepção
desta semelhança
que agora sinto tão poderosa
Como foi possível
ter havido um tempo
em que eu não concedia a palavra
ao mar e ao céu
para deles escutar esta verdade
que me faz tão feliz:
eu tenho a forma dos pássaros!
Ah!… os caminhos…, os caminhos…,
os caminhos que atravessei
e os que me atravessaram
os caminhos que me entrelaçaram
noutros caminhos
uma, e outra, e outra, e outra vez…,
e isso eram golpes,
no pescoço, nos ombros , nas pernas
e eram tantos os golpes
que eu em vez de andar
dava cambalhotas e rodopiava
Agradeço àquela cigarra
que numa noite de luar
em que eu e os astros nos sentimos
órgãos do mesmo corpo,
me disse:
“Dá a palavra ao céu e ao mar”
Sim,
a ‘culpa’ foi da cigarra
foi ela,
que ao unir-se ao momento,
ao fazer parte do tal corpo,
foi ela que me disse
para não voltar a pentear os cabelos
sem primeiro
dar a palavra ao céu e ao mar,
e foi o que fiz,
e quem me penteia agora,
pássaro que sou
dos meus instantes,
é o vento e o meu pensamento,
e nada mais
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Soares Teixeira-13-01-2022
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