sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

"PÁSSARO QUE SOU" - SOARES TEIXEIRA

 

Em comum com os pássaros

tenho a forma

quando, como eles,

me estendo pelo horizonte

Houve tempo

em que não tinha a percepção

desta semelhança

que agora sinto tão poderosa

Como foi possível

ter havido um tempo

em que eu não concedia a palavra

ao mar e ao céu

para deles escutar esta verdade

que me faz tão feliz:

eu tenho a forma dos pássaros!

Ah!… os caminhos…, os caminhos…,

os caminhos que atravessei

e os que me atravessaram

os caminhos que me entrelaçaram

noutros caminhos

uma, e outra, e outra, e outra vez…,

e isso eram golpes,

no pescoço, nos ombros , nas pernas

e eram tantos os golpes

que eu em vez de andar

dava cambalhotas e rodopiava

Agradeço àquela cigarra

que numa noite de luar

em que eu e os astros nos sentimos

órgãos do mesmo corpo,

me disse:

Dá a palavra ao céu e ao mar”

Sim,

a ‘culpa’ foi da cigarra

foi ela,

que ao unir-se ao momento,

ao fazer parte do tal corpo,

foi ela que me disse

para não voltar a pentear os cabelos

sem primeiro

dar a palavra ao céu e ao mar,

e foi o que fiz,

e quem me penteia agora,

pássaro que sou

dos meus instantes,

é o vento e o meu pensamento,

e nada mais


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Soares Teixeira-13-01-2022

(© todos os direitos reservados





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