Pertenço às perguntas por fazer
pertenço à ausência do todo na
soma das partes
pertenço ao mel a escorrer da
chama
pertenço às rosas a florir do
fumo
pertenço às palavras de vinho e
flauta
pertenço ao mar que cresce nas
colinas do vento
beijo o azul de um espaço prestes
a ser boca
beijo a sôfrega boca da chuva
beijo os lábios de uma deusa esquecida
tenho aqui o caos
e ali o cosmos
divago por entre a folhagem translúcida
lanço abelhas a caminhos que só
eu vejo
como bagas de música e raízes de
liberdade
ultrapasso-me
recebo-me
danço-me
celebro-me
estrídulo
extravagante
incessante
e antes e depois
do alfa e do ómega
salto sobre o touro e saúdo o Sol
sempre antiquíssimo
sempre sal do futuro
sempre íntimo das cúpulas do
mistério
e dos silvestres caminhos do
prodígios
pertenço à inquietação que se
liberta dos astros
pertenço-me
escandalizai-vos reptilianos murmúrios
de lâminas
pertenço aos meus possíveis e
impossíveis
mordo a nudez dos sonhos
e contorço-me
entre gargalhadas de puro prazer
Soares Teixeira – 06-10-2016
(© todos os direitos reservados)
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