Olho
e o meu olhar é um beijo na fronte dos astros
e isso eles nunca me recusam
conhecem-me
conhecem tudo o que em mim se quebra
tudo o que em mim se constrói
sabem quando encosto a cabeça às árvores
quando os ombros se me estremecem
a forma que dou aos acontecimentos
ou quando tento calafetar os navios da minha culpa
por trás da voz da noite
oiço o sussurro daqueles que não me abandonam
e me oferecem os seus rostos
e me aceitam como lira e como cidade
tenho a sensação de que não sou um forasteiro entre as
galáxias
uma sensação antiga guardada dentro de muralhas
inexpugnáveis
Quantas vezes, nas passagens íngremes de alguns caminhos
me sinto o filho predicleto das pequenas flores
que em cuidados maternais me conduzem por entre os abismos
superstição?
ilusão?
não renego a olaria dos mistérios nem os segredos dos búzios
só isso
e isso me basta para este meu olhar de rapazinho
vestido de gratidão
Soares Teixeira – 23-10-2016
(© todos os direitos reservados)
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