quinta-feira, 21 de abril de 2016

"FICAR LONGE" - Soares Teixeira



Há dias em que as palavras não querem ser oferendas ao pensamento e o que apetece é não pensar em nada, absolutamente nada. Para quê pensar se tudo é irreconhecível? Antes o vazio, o nada. Lá ao menos não há sede de sangue, nem cavalos atravessados por lâminas de medo, nem gargantas onde serpentes celebram a morte de veias livres. O vazio….. o nada….. sem centro ou periferia, sem começo ou fim, sem luz ou sombra ….. o vazio ….. o nada ….. apenas ….. e tanto. E é tanto o que existe quando a respiração pode ser leve, leve, leve, levíssima, mais leve qualquer punhal a aguardar a hora de ser riso de hiena a celebrar traição. Ficar numa ausência, num tempo incerto, num espaço ocupado não pelo corpo mas pelo espírito – liberto de todos os caminhos, de todas as origens, de todo o horizonte. Ficar longe, bem longe do hálito de latrinas vestidas de seda.



Soares Teixeira – 21-04-2016
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