quinta-feira, 30 de abril de 2015

"INTIMIDADE" - Soares Teixeira





Mar
e habitar o instante sem nome
do poema a acontecer
nos lábios líquidos das ondas

céu
e beber o azul da flor do horizonte
numa demora da alma que se ilumina
até ao fundo do mistério

navegar
e ser silêncio segredado
à íntima vastidão dos espaços
que se abrem à sede das pálpebras



Soares Teixeira – 30-04-2015
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 29 de abril de 2015

"OFERENDA" - Soares Teixeira





O sol é um fruto
e eu
estendido no convés do veleiro
braços entregues
às sílabas do descanso
pernas abertas em compasso
de geómetra de si mesmo
sou oferenda
que se entrega
ao azul de luz em grito

nenhuma palavra em mim
apenas contemplo
e sou templo
consagrado à grande árvore
com seiva de infinito

sobre as ondas
vou
como vértice que ondula
por bagagem
levo o olhar
e o navio
que é íntimo da viagem



Soares Teixeira – 29-04-2015
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 28 de abril de 2015

"À PROA" - Soares Teixeira



Navio "Santa Maria Manuela". "Tal Ship Races" Cádis/Lisboa - 2012)


Gosto do poema
que se deixa acontecer
nas asas
de quem com ele voa

o poema sem abóbada
onde cabem as ondas do mar
as flores sem idade da lua cheia
ou o murmúrio dos rios siderais

de braços abertos
o poema e eu
a brincar às idas e aos regressos
os dois à proa

deste veleiro que é viver



Soares Teixeira – 28-02-2015
(© todos os direitos reservados)

sexta-feira, 24 de abril de 2015

"A POESIA DÁ SAÚDE" - Soares Teixeira





Há uvas no poema
provo-as
são boas

estranha sensação ao senti-las na boca
mastigo-as
com prazer

apetece conversar com um pássaro
à luz de um sentimento ancestral
e com ele recomeçar noutro azul

e apetece o atrevimento
de rodear o sol com os braços
e dançar a dança
dos espíritos por acontecer

a poesia faz bem
dá saúde à liberdade



Soares Teixeira – 24-04-2015
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 23 de abril de 2015

"ACONTEÇA O QUE ACONTECER" - Soares Teixeira





Gota a gota
os dias caem
nos degraus do tempo

fica um rasto
de sangue
de ilusão

haverá uma barca
à espera da hora
que pousa nas pálpebras?

E se houver?
acontecerá viagem
num segredo primordial?

E se não houver?
extingue-se o extinto o vulcão
no definhar da memória?

Aconteça o que acontecer
não existirão bandos de beijos
a voar no amanhecer



Soares Teixeira – 23-04-2015
(© todos os direitos reservados)