quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

"SONHAR" - Soares Teixeira





Confiar?
em quem?
se só vejo traição a palpitar

Confio
no céu deslumbrado com o mar
no mar deslumbrado com o céu
e nas árvores
deslumbradas
como eu
com os astros que abrem a noite
ao silêncio do ar
confio
no sossego que acaricia a luz
na plenitude dos instantes raros
e adormeço
embalado em côncavos devaneios
que me iludem sem que me importe
dormir
esquecer
sonhar com dias mais claros



Soares Teixeira – 22-01-2015
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

"AH COMO ERA NOSSA" - Soares Teixeira





Ah como era nossa
a alta claridade das vinhas do delírio

nua como um sol
estavas
dentro do movimento
os braços em arco de lentidão
abriam as pétalas da flor em conquista de espaço
e a cintura era o pássaro da dança

tigre como um relâmpago
eu era
a extremidade da luz
e os meus membros amavam o desejar-te
por isso intermináveis colunas de fogo
erguiam-se do meu mais íntimo chão

depois
o mosto
o sermos o som das cores gritadas
o sermos humanos
o estendermo-nos em unidade
na celebração da chama

Ah como era nossa
a liberdade



Soares Teixeira – 21-01-2015
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

"3" - Soares Teixeira





Do ventre do vosso cérebro nasci
e nunca me cortaram o cordão umbilical
que sou eu afinal?
porque estou aqui?


Soares Teixeira – 19-01-2015
(© todos os direitos reservados)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

"BELA ADORMECIDA" - Soares Teixeira





Da noite dos dedos adormecidos
voam difusos bailes de grandes asas
a orquestra liberta vertigem
desligados do chão dançam pares
que rodam como fontes sem peso
a luz faz-se êxtase nos cristais
e o riso dos reposteiros confunde-se
com o dos vastos salões

Adormecida
com uma rosa sobre o peito
a sua respiração extinguiu o tempo
e deixa que em si se cumpra o infinito

Bela
tornou-se céu da espera

No intenso silêncio da flor
a certeza que a mantém fresca
é que há um beijo a beber distância



Soares Teixeira – 16-01-2015
(© todos os direitos reservados)


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

"DISSE-TE" - Soares Teixeira






Disse-te
“Um dia escreverei um poema de amor
com as cores com que agora sou janela
aberta à luz que amadurece na manhã”
Disseste-me
“possui o silêncio do aroma
e que tudo o resto
sejam jardins por nascer”
Não sei
para quando a água desse tal poema
“Vou sendo espuma”
é tudo quando posso escrever
e escrevo
em cada teu momento de corpo

 
Soares Teixeira – 15-01-2015
(© todos os direitos reservados)