quinta-feira, 9 de outubro de 2014

"OS GATOS" - Soares Teixeira




Daisy


Os gatos acreditam no sexto sentido das estrelas, por isso a sua a respiração é a procura do peito da noite e nas suas caudas há rios onde se refletem relâmpagos e nas suas patas há abóbadas por decifrar e nos seus olhos há sempre luas cheias. Os gatos sabem onde encontrar grilos vestidos de cometa e anjos acocorados sobre colunas de topázio e barcos fenícios carregados de lendas e peixes de vento em praias a sonhar amantes. Gato que se preze tem o seu pé-de-meia: pelo menos sete saltos impossíveis em sete vidas para acontecer, sete histórias de piratas escritas no dorso – para quem as souber ler -, sete reinos transparentes com sete tronos à sua espera e ainda sete princesas nuas a dançar a dança das sete quimeras. Os gatos fazem perguntas às perguntas e respondem às respostas e bebem sede de silêncio e são silêncio de sede bebida e miam como se abrissem portas em sono côncavo. Os gatos, porque são gatos, entrelaçam os seus passos com dias a ser memória das esquinas e bocejam em geografias de outras existências e quando se sentam sobre as patas de trás são ausências expostas na sua ostensiva presença. Completos, incompletos; partida, chegada; segredo, revelação, concretos, abstratos; calma, alvoroço – gatos. Os gatos são inexplicáveis explicações da cor que vibra, da flor que canta, da mesa que flutua, da ave transformada em harpa, dos lábios feitos de uvas. Sei tudo isto porque um gato mo contou. Esse que tens no olhar.



Soares Teixeira – 09-10-2014
(© todos os direitos reservados)

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