Daisy
Os gatos
acreditam no sexto sentido das estrelas, por isso a sua a respiração é a
procura do peito da noite e nas suas caudas há rios onde se refletem relâmpagos
e nas suas patas há abóbadas por decifrar e nos seus olhos há sempre luas
cheias. Os gatos sabem onde encontrar grilos vestidos de cometa e anjos
acocorados sobre colunas de topázio e barcos fenícios carregados de lendas e
peixes de vento em praias a sonhar amantes. Gato que se preze tem o seu
pé-de-meia: pelo menos sete saltos impossíveis em sete vidas para acontecer,
sete histórias de piratas escritas no dorso – para quem as souber ler -, sete reinos
transparentes com sete tronos à sua espera e ainda sete princesas nuas a dançar
a dança das sete quimeras. Os gatos fazem perguntas às perguntas e respondem às
respostas e bebem sede de silêncio e são silêncio de sede bebida e miam como se
abrissem portas em sono côncavo. Os gatos, porque são gatos, entrelaçam os seus
passos com dias a ser memória das esquinas e bocejam em geografias de outras
existências e quando se sentam sobre as patas de trás são ausências expostas na
sua ostensiva presença. Completos, incompletos; partida, chegada; segredo,
revelação, concretos, abstratos; calma, alvoroço – gatos. Os gatos são inexplicáveis
explicações da cor que vibra, da flor que canta, da mesa que flutua, da ave
transformada em harpa, dos lábios feitos de uvas. Sei tudo isto porque um gato
mo contou. Esse que tens no olhar.
Soares Teixeira – 09-10-2014
(© todos os direitos reservados)
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