Eu ia num navio
à popa
e do convés olhava
como se voasse de dentro para fora de mim
de dentro para fora…
de fora para dentro…
em círculos
lentamente
sem qualquer pressa no prazer ou no ser
do meu lado esquerdo as terras do adeus
do meu lado direito as terras do nunca mais
é também assim o navio da vida
assim mesmo…
nenhuma pedra se repete
nenhum vento se repete
porque a pedra de hoje é o que eu sou ao vê-la hoje
- amanhã é outra porque eu serei outro
porque o vento de hoje é o que eu sou ao senti-lo hoje
- amanhã é outro porque eu não serei o mesmo
O céu crescia-me no peito de pássaro
no mar um rasto de espuma e outro de sol
Tirei uma fotografia à alma do instante
revejo-a agora com um sorriso marinheiro
não está lá, mas está
sim está!
vejo-o nitidamente e lembro-me de o ter sentido
tanto e tanto no meu convés de pestanas e abandono
lá está ele
esse rasto de saudade
a nascer do eu ser navio com casco de emoção
navio sim
imenso
como um sonho de Além
como um murmúrio a deslizar
dentro de um sopro de eternidade
Soares Teixeira – 07-10-2015
(© todos os direitos reservados)
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