segunda-feira, 5 de outubro de 2015

"AQUI, EM VIGELAND" - Soares Teixeira


(Pormenor do Parque Vigeland em Oslo, Noruega)


Aqui, em Vigeland
quem somos?
ventos de perguntas já feitas?
arcos de respostas por acontecer?
uma centelha a incendiar um abismo?
uma escultura mais
entre estas que nos respiram?
um gesto mais
entre estes que em nós vivem o instante?
um olhar mais
entre estes que nos levam a outra página
- outra página de nós mesmos,
outra página e a mesma
- líquida unidade que procuramos na argila do Ser,
água do agora e do sempre
- rio, pétala a deslizar no rio, reflexo no rio

Aqui, em Vigeland
os músculos reúnem-se com a folhagem de bronze
as veias sacodem a pedra em flor
o íntimo acorda ao som de murmúrios
o íntimo é a concavidade que recebe o desassossego
o íntimo é um núcleo que não retém a sua força
o íntimo segreda silêncios finíssimos
o íntimo, ébrio de grito, grita, com maxilas de mistério

Aqui, em Vigeland
humanidade solar
horizonte, destino, inquietação,
ardor, acaso, dor
energia, sangue, profundidade
céu, abundância, ritmo
existência
expansão
condição
fragilidade
eterno
efémero
terrena ebriedade de todas as linguagens
aqui
a minha idade
é em mim
ser o poço mais fresco, a zona mais tranquila
o lápis mais afiado, a penumbra mais iluminada
aqui
onde sou aquilo que me completa
e tudo o que me falta
aqui, entre iguais
- os que ficam e os que caminham
a minha idade é
a promessa de me guardar, inteiro,
para o nunca ter idade
aqui, em Vigeland


Soares Teixeira – 05-10-2015
(© todos os direitos reservados)

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