Deitado. O tronco da árvore
suporta o meu corpo. Noite. Tudo imaginário nesta cadeira - excessivo até ao
real. Falo.
Estrelas, oiçam-nos dizer que
somos claridade a enfrentar a claridade e as nossas asas, que nunca desistem de
ser feitas de grandes espaços libertos de todos os princípios e todos os fins,
silenciosas como rosas a respirar palavras ainda por nascer, secretas como
perguntas vivas de rios subterrâneos que têm no gesto a inquietação das suas
nascentes, primordiais como cálices anteriores às lendas aos mitos e aos
presságios; as nossas asas atravessam o horizonte e saem-lhe pelos olhos – os
nossos olhos abertos, desde a raiz da sílaba ancestral até ao verde da floresta
para lá dos oceanos. O ímpeto das abelhas entende a viagem desta certeza, o
êxtase das falésias entende a imensidade desta ânsia em acender o infinito, as
veias dos relâmpagos entendem esta consagração aos braços do além. Entendam
vocês também, estrelas. Como borboletas de papel no quintal de uma grande casa
os dias passam e passam também as noites, as noites… que é quando vocês,
estrelas, saem de dentro de frasquinhos, felizes por poderem mostrar as vossas
bocas – às vezes uma ou outra chama-nos aos gritos, com toda a sua luz
despenteada e nós vamos para o quintal da grande casa e acenamos e dizemos Olá!
Estamos aqui! E dizemos que somos claridade a enfrentar a claridade. Vocês
sorriem ainda mais e é então que nós abrimos as nossas asas e vamos dizer-vos:
liberdade.
De pé. O meu corpo suporta uma
árvore. Voar.
Repito: liberdade.
Soares Teixeira – 31-05-2014
(© todos os direitos reservados)
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