Ficar?
Ficar é ser viela empoeirada
onde cada vez mais pó se aglomera
Não, eu não quero ficar em mim
para, no máximo, emigrar
para memórias e reflexos do que fui
Não quero ser floresta petrificada
O que eu quero
são os gritos das aves aquáticas,
são os olhares dos cavalos selvagens,
são as cores das cidades cosmopolitas,
são os cheiros do fim do mundo,
é sentir o ar carregado de mistério
Entardecer a vida
como um navio amarrado ao cais?
Olhar o céu e o mar
como mendigo de azul?
Tornar-me habitante
de ecos dos meus passos no silêncio?
Não!
Quero a minha alma sempre acesa,
pronta para o próximo romance
entre mim o horizonte
Quero a minha inquietação
em incessante procura
de astros extraviados
Quero ter gestos ousados
para tornar minha realidade
as miragens desfocadas
Neste, que sou,
não há apenas o que fui,
ou vou sendo
Neste que sou
há uma multidão que avança
e à sua passagem
levanta do chão
sonhos caídos
Neste, que sou,
não fico!
Neste, que sou,
ordeno-me a ir!
E vou!
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Soares Teixeira-27-02-2022
(© todos os direitos reservados)
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