segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

"SOLSTÍCIO DE INVERNO" - Soares Teixeira








É tempo de Solstício de Inverno. Alegrai-vos abóbadas escondidas sob as lajes do chão. Irrompei de vós mesmos como súbitos relâmpagos em vós descobertos, decifrados e por decifrar. Aos de olhar inflamado na proa do gesto, digo-vos: Vivam! Gozem! - como sempre fizeram. Aos variáveis na cor da tela da vida, digo-vos: arco-íris e girassol - sempre. Aos que amam a dor de se despedirem das colheres que sentem não deverem alimentar-lhes o sorriso, digo-vos: Há tempo de ser o derradeiro sonho dos que se sonham, há tempo de ser a lágrima da ignota estátua em que se converterá o existir – este é o tempo de assobiar vontades marítimas. Enquanto as árvores tocarem flautas dentro dos ramos, enquanto os pássaros trouxerem nas asas a respiração da liberdade, enquanto os peixes nomearem tudo o que no seu reino é deslumbramento, enquanto os ventos espalharem sementes pelo peito dos horizontes, enquanto as nuvens forem a pátria do coaxar das rãs, enquanto os lagos acariciarem o reflexo do Sol, enquanto os cumes das montanhas forem beijo soprado à Lua; equídeos correrão dentro das minhas veias, nas suas crinas estará a incandescência das galáxias e nos seus cascos toda a avidez da luz. Oh! instantes que chovem dos instantes, saltarei no vosso charco, esfregar-me-ei com a vossa lama, beberei o leite - pelas minhas mãos ordenhado - das vossas vacas sagradas. Afastem-se de mim os amantes titubeantes, afaste-se de mim o cabecear dos que se alimentam da negação dos sonhos, afastem-se de mim os que entrelaçam as mãos nas correntes do medo, afastem de mim a seriedade dos sensores, afastem de mim a voz engomada dos moralistas. Pego nas conveniências, olho-as, rio-me com estridentes gargalhadas de gozo, e atiro-as para longe, para que os ratos as comam. Tragam-me vinho, tragam-me de comer, tragam-me festa – tragam-me os vossos gestos fora das ânforas que sois nos dias vulgares. Cantai comigo, dancemos. Brindemos à Terra, amada fêmea de férteis seios e opulentas ancas. Vestidos do avesso não escondamos que o nosso corpo é uma história por contar. Troquemos presentes. Sê felizes. O Sol vencerá!





Soares Teixeira – 22-12-2013
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