Continuarei
o desencontro
entre
este leite de silêncio
que
alimenta
a ausência
do instante
e o furor do peixe
a
espalhar caos e excesso
por
entre anémonas
que
desconhecem outros mares
Continuarei
ânfora de encantos
encostada
à lendária árvore
da
lendária ilha
algures
no navio dos séculos
e sol a beijar
a
festa dos meus dias
celebrada
nos telhados de templos
poisados
nas pálpebras dos promontórios
Continuarei
a respirar
a
névoa de espelhos longínquos
que
ondulante
me
acaricia os lábios
e a rasgar os caminhos
com
o meu bafo de touro de bronze
as
minhas garras de tigre alado
as
minhas patas de centauro esfomeado
Continuarei
enseada
e navegação
solidão e sextante
círio e relâmpago
chão e asa
Aqui e aos ombros de todo o
lado
Continuarei
boneco de corda dentro de
caixa de cristal
arlequim a sacudir as grades
da vida
intacto no todo e também em
cada bocado
Continuarei
assim mesmo
com duas janelas no peito
duas portas nos joelhos
e um outro que sou eu
nas veias onde vou semeando
aquele que há-de nascer
Continuarei
até quando?
não sei
talvez até outro alvorecer
Soares Teixeira – 16-10-2013
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