domingo, 26 de maio de 2013

"PÉS" - Soares Teixeira



Alonguei os pés
como quem calça uns sapatos novos
e mergulhei-os dentro da água
nua e fresca
a oferecer-se
como presente sempre eterno
As minhas mãos estavam
ao lado do corpo
sobre a rocha onde me sentava
mas tinha os braços abertos
porque era assim o meu respirar
O mar recebia
os peninsulares dedos dos meus pés
que se abriam e contorciam de gozo
como príncipes
celebrando a conquista de um novo reino
O sol a debicar-me nas pálpebras
cada raio uma gaivota
em busca de alimento
talvez os meus pensamentos
Com todos os navios do olhar
rumo ao horizonte
levava nessa tranquila frota
os meus sentimentos
o resto
matéria para dar vida à liberdade
que ficasse
como a rocha
o olhar que fosse
ser instante sem moldura
Ao ver uma gaivota passar
senti-a tão verdadeira como as outras
as que são feitas de luz e espanto
e que eu alimento
com aquilo que me dá o ser
o pensamento
De repente dois peixes
a passear tranquilos no mar
chamam-me a atenção
sinto-os felizes
debruço-me para os ver melhor
faço-os agitar
saltam como loucos
como são bonitos
os meus pés

Soares Teixeira – 15-05-2013

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