quarta-feira, 7 de março de 2012

"O DESEJO NAVEGA NO SANGUE" - Soares Teixeira



O desejo navega no sangue
o prazer tem um pescoço longo
que sorve a catarata do instante
as mãos alongam-se como poentes
e afagam o feno da pele
que é macio e cheira a nuvem
os músculos são os lábios da carne
a boca beija o gemido
contraem-se as nádegas do touro
e a estrela recebe o lírio de bronze
tudo está em harmonia com o trigo que cresce
tudo é ânimo de astro tudo é trepadeira de luz
tudo é próximo e distante tudo é solene e sagrado
tudo é infinito no convés do lugar
não há casas não há muros não há caminhos
há apenas um tudo de rosto voltado
para uma praia que são braços
e uma trombeta de som arqueado
que penetra nas nervuras do horizonte
e morde o fogo com um riso quase humano


Soares Teixeira