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Acredito que a
tua boca
não esteja
apenas dentro da máscara
que só diz
o que a máquina
lhe permite que diga
essa máquina
terrível
esta máquina
terrível
que cresce
e que rasga e esmaga
e esconde e mente
acredito que a
tua boca
ainda está nos
pássaros e nas ondas abertas aos espaços
no sopro da
música e na sublevação da palavra
ainda acredito
Olha bem para
mim
tu dantes não
eras assim
Leio-te nos
olhos a palavra sobreviver
as tuas pupilas
soletram
incansavelmente,
maquinalmente, invariavelmente
so bre vi ver
so bre vi ver
so bre vi ver
e tu cumpres a
voz da máquina que esmaga
e com que
esmagas
para não seres
esmagado
so bre vi
ver baba a escorrer dos cantos dos
lábios
so bre vi
ver uivo esverdeado a quebrar
vitrais
so bre vi
ver esgar de lama de cemitério
aprendeste a
mentir como se falasses verdade
aprendeste o gesto
certeiro do cinismo
aprendeste a
não ter remorso
ah o que te
ensinaram
e o que tiveste
de aprender
e o que mostras
que tens de ser
Acredito que a
tua boca
ainda esteja
nos ventos que fomos
quero acreditar
mas se eu
estiver tão profundamente enganado
então
em nome das
palavras
um dia entre
nós ditas com solar sinceridade
quando
conversares comigo
se vires que
não consegues libertar-te dessa droga
autorizo-te que
mintas
mas, por favor
em silêncio
Soares Teixeira – 12-10-2014
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