GRILO
Sou o último grilo do meu bosque
mas também o primeiro
Portas feitas de pensamentos noctívagos,
abrem-se para deixar passar
aquele que vem e aquele que vai
e os dois sou eu
e os dois olham-se num verso
e esse verso também sou eu
Onde estarão as sombras desses que se cruzam?
Algures por trás das palavras,
como pequenas aranhas adormecidas
no centro das suas teias?
No rosto enigmático
de antigas estátuas de bronze?
Todos os lugares, mesmo os não lugares,
são a superfície onde desenho
com o meu olhar de compasso
o círculo
onde começa a minha despedida,
onde o meu peso vai deixando de existir
Não me explico
Sou o último grilo do meu bosque
mas também o primeiro
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Soares Teixeira - 17-07-2022
(© todos os direitos reservados)
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