domingo, 27 de fevereiro de 2022

"VOU!" - SOARES TEIXEIRA


Ficar?

Ficar é ser viela empoeirada

onde cada vez mais pó se aglomera

Não, eu não quero ficar em mim

para, no máximo, emigrar

para memórias e reflexos do que fui

Não quero ser floresta petrificada

O que eu quero

são os gritos das aves aquáticas,

são os olhares dos cavalos selvagens,

são as cores das cidades cosmopolitas,

são os cheiros do fim do mundo,

é sentir o ar carregado de mistério

Entardecer a vida

como um navio amarrado ao cais?

Olhar o céu e o mar

como mendigo de azul?

Tornar-me habitante

de ecos dos meus passos no silêncio?

Não!

Quero a minha alma sempre acesa,

pronta para o próximo romance

entre mim o horizonte

Quero a minha inquietação

em incessante procura

de astros extraviados

Quero ter gestos ousados

para tornar minha realidade

as miragens desfocadas

Neste, que sou,

não há apenas o que fui,

ou  vou sendo

Neste que sou

há uma multidão que avança

e à sua passagem

levanta do chão 

sonhos caídos

Neste, que sou,

não fico!

Neste, que sou,

ordeno-me a ir!

E vou!

 

----------

Soares Teixeira-27-02-2022

(© todos os direitos reservados)

 

 

sábado, 26 de fevereiro de 2022

"O QUE A POESIA NOS TRÁS" - SOARES TEIXEIRA

 

A poesia traz-nos coisas

que podem ser incompreensíveis

para alguns – até perigosas

e essas coisas podem ser

avenidas calcetadas a luar

ou pássaros psíquicos

a levantar voo de ponteiros  

cansados dos seus relógios

 

Isso, que a poesia nos trás,

e que pode por muitos

ser considerado delito,

é um convite para que o olhar

abra portas de armários

e deslize para outra dimensão

Isso, que a poesia nos trás,

é a liberdade

 

 

 

----------

Soares Teixeira-26-02-2022

(© todos os direitos reservados)

 

 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

"MEDO" - SOARES TEIXEIRA

 

Gosto do infinito

e, de à minha maneira, o imitar

sabendo que jamais o conseguirei

mas hoje não me sinto disponível

para gostar do infinito;

hoje sinto o infinito engarrafado

e não quero imitá-lo,

porque talvez conseguisse


Eu, que gosto tanto do infinito

e, de à minha maneira, o imitar,

mesmo sabendo que jamais passarei

de passos descalços no intervalo

de dois nadas,

hoje sinto-me uma gaveta cheia

de talheres inúteis

porque dentro da minha boca

volumosas grades ocupam todo o espaço


O ar jovem dos instantes não existe,

os lugares estão cabisbaixos, tristes,

as coisas, sem dedos, não me tocam


Sombra que se cansa a si própria

Tempestade a despertar de um sono

Nem as flores são como é seu costume


Gosto do infinito


Gosto de ficar à escuta das respostas

às minhas perguntas,

e hoje isso não é possível

porque não consigo 

escutar essas  respostas,

hoje os sons são outros,

hoje não me consigo ver longe,

naquele ainda muito longe,

naquele longe que nunca chega,

naquele longe que me chama,

naquele longe onde gosto de viajar,

hoje há um peso onde não me aguento

existir


Tenho medo

E eu preciso tanto do infinito


----------

Soares Teixeira-25-02-2022

(© todos os direitos reservados)


(a pensar na guerra na europa de leste)