domingo, 21 de novembro de 2021

"LONGE" - SOARES TEIXEIRA


Pego num lápis e num papel
e começo a desenhar-me
sem pressa
primeiro uma raiz
depois um alongar de raízes
que se estendem até ao olhar
depois uma distância
onde o azul é a única cor
depois um barco
e nele vai preso o Sol - como um balão
Interrompo o desenho
Interrompo-me…,
Fico assim como…,
algo indefinido…,
nem lápis, nem papel,
nem começo, nem desenho,
nem eu...
(se me interrompo deixo de existir)
Momento branco
de olhar vazio
onde o nada é a única superfície
e o único interior
Quanto tempo passa?
O tempo branco é silêncio;
não responde
Ao longe
(não sei que longe)
um chamamento
Reparo que me interrompi em barco
e volto a desenhar-me
tronco, ramos, folhas,
tombadilho, proa, quilha,
alma
O lápis corre cada vez mais depressa no papel
o desenho aumenta, aumenta sem parar
os dedos seguram o lápis com força
e o lápis desenha furiosamente
e o papel quase se rasga
e o barco vai…, vai…,
num mar de lágrimas que ondulam na alma
- vento, tempestade, respiração ofegante
O Sol solta-se do barco,
transforma-se num piano
e fico a escutar o som da música
… que me chama
… de longe
(não sei que longe)
… mas tão perto...


----------
Soares Teixeira-21-11-2021
(© todos os direitos reservado

Sem comentários:

Enviar um comentário