quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

"AQUI E AGORA" - Soares Teixeira



Ficar no sono do sonho,
dentro do círculo do se?
se eu fosse…
se eu tivesse…
se eu pudesse…
Ficar a iluminar a negação do Ser?
Preservar o grito silenciado?
Suturar indefinidamente a ferida da asa cortada?!
Virar as costas aos espelhos,
para não ver a linha recta
que teima em sair do peito da imagem,
e não sentir na carne e no espírito
a dor dum espinho de luz,
e assim transformar  a renúncia ao sonho
em tempo habitável?!
Ser ardósia onde a palavra esquecimento
é escrita e rescrita e rescrita e rescrita,…
ser vela a chorar por dentro
o pavio que se vai gastando,…
ser sombra amadurecida
diante de fronteira opaca,…
é isso?
apenas isso?
Deixar que tudo se resuma
a areia a escorrer por entre os dedos?
é isso?!
e sem nunca as próprias mãos
abanarem os próprios ombros?
nem mesmo as mãos que saem dos espelhos?
Ser simulacro?!...
Viver em simulacro?!...
Oh mesas repletas de fingidas baixelas
Oh reposteiros de falsas verdades
escutai o uivo da sede
e provai o mar liberto
e provai o murro e o grito
e que os vossos destroços espalhem
aos quatro ventos
e até bem longe
que o amanhã
é uma árvore que se planta
aqui e agora!


Soares Teixeira – 18-01-2018
(© todos os direitos reservados)

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