Gosto de beber o café por uma chávena
lentamente
e que durante esse ritual nada aconteça
que me afaste do estar ali
sem outra razão para além do eu ter escolhido
aquele instante e aquele lugar
para inventar um mundo de répteis sem peso
ali
sentado a uma mesa
tranquilidade sem telhado
espírito guardado num bolso de olhar
olhar vazio
pausa de centauro longe de patas incandescentes
as pessoas passam
quantas iguais a mim
quantas diferentes
todas atravessadas por obrigações
e a colecionar janelas que jamais hão-de ter
gotas a rolar
gotas de chuva gotas de orvalho gotas de tempo
passam
alheias à forma como quase beijo a chávena
lentamente
(por isso eu gosto do café servido numa chávena)
nunca se deve arrancar um prazer pela raíz
numa chávena pois
e de porcelana se possível
para plástico já bastam os sorrisos falsos
Soares Teixeira – 01-09-2015
(© todos os direitos reservados)
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