terça-feira, 2 de setembro de 2014

"POEMA PARA UMA OLIVEIRA" - Soares Teixeira









Sabes Oliveira
aqui na casa grande deste instante
sou uma candeia de olhos muito abertos
sigo-te o tronco as folhas e os frutos
até às raízes do tempo e vou nesse mar aberto
e meus gestos juntam-se aos antiquíssimos gestos
que acariciavam as palavras murmuradas pelo teu corpo
preciso do azeite da tua solenidade
para que o meu espanto brilhe
com a mesma devoção com que os rios correm para o mar
fico aqui a olhar-te
perco-me na tua folhagem e esse perder-me
é um plantar gestos e sílabas num chão assombrado
sei que não és ambígua nem alheia ao meu rosto
e que me reconheces ao longe
por isso gosto que as minhas pálpebras te abracem
é como se ficasse para sempre guardado dentro de ti
num sussurro de luz milenar
por isso é que este instante é uma casa grande
grande
como uma ânfora onde cabem todas as manhãs da eternidade



Soares Teixeira – 02-09-2014
(© todos os direitos reservados)

1 comentário:

  1. A eternidade presa no tronco, nas folhas, nos frutos da milenar oliveira. O sentimento telúrico presente na poesia, como já Torga e outros fizeram. Poema excelente! Muito obrigada, amigo.

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