Sabes Oliveira
aqui na casa grande deste instante
sou uma candeia de olhos muito
abertos
sigo-te o tronco as folhas e os
frutos
até às raízes do tempo e vou nesse
mar aberto
e meus gestos juntam-se aos antiquíssimos
gestos
que acariciavam as palavras murmuradas
pelo teu corpo
preciso do azeite da tua
solenidade
para que o meu espanto brilhe
com a mesma devoção com que os
rios correm para o mar
fico aqui a olhar-te
perco-me na tua folhagem e esse perder-me
é um plantar gestos e sílabas num
chão assombrado
sei que não és ambígua nem alheia
ao meu rosto
e que me reconheces ao longe
por isso gosto que as minhas
pálpebras te abracem
é como se ficasse para sempre
guardado dentro de ti
num sussurro de luz milenar
por isso é que este instante é uma
casa grande
grande
como uma ânfora onde cabem todas as
manhãs da eternidade
Soares Teixeira – 02-09-2014
(© todos os direitos reservados)
A eternidade presa no tronco, nas folhas, nos frutos da milenar oliveira. O sentimento telúrico presente na poesia, como já Torga e outros fizeram. Poema excelente! Muito obrigada, amigo.
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