quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
"A MESA POSTA" - Soares Teixeira
A mesa posta
com o horizonte por toalha
estás sentada num promontório
eu também
comemos com talheres de saudade
os beijos que recordamos
Os pássaros atravessam
os nossos corpos transparentes
e os ventos acreditam
que somos secretos
As palavras que dizemos
são azuis
nítidas
e iniciais
como o mar
O nosso olhar encontra-se
na abóbada do desejo
Soares Teixeira
(©todos os direitos reservados)
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
"DEIXO-TE AS PÁLPEBRAS SOBRE A TESTA" - Soares Teixeira
Deixo-te as pálpebras sobre a testa
e levo comigo
metade do beijo que te dei
Estou certo que o novo dia saberá
que sou uma porção de lábios
de passagem pelo efémero
e que o que de mim resta
repousa na eternidade do teu rosto
O mundo cheira a poema
as esquinas são leves
e os caminhos aprendem
o ritmo dos meus passos
Os instantes que vão chegando voam
em torno do meu olhar apaixonado
e partem para os céus
dizendo o meu nome aos pássaros
É possível que algumas pessoas
se voltem para trás
para ver uma árvore caminhar
não me importo
A minha boca ainda está
no chão matinal do teu corpo
por isso sinto como natural
este meu andar de plátano encantado
Soares Teixeira – 23-01-2013
(© todos os direitos reservados)
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
"OLHÁMO-NOS E DEIXÁMOS DE FUJIR" - Soares Teixeira
Olhámo-nos e deixámos de fugir
nas nossas pupilas descobrimos erva fresca
a cumprir promessa
aos nossos sentidos chegaram conchas
que julgávamos não existir
Tranquilamente saímos pelas janelas
dos nossos lábios
e reunimo-nos num abraço
que encheu o copo do instante
Roubámos o cobre ao sol
o mármore aos deuses
e as alfaias aos camponeses
para tudo em nós
ser início solenidade e sangue novo
e naquele fim de tarde
oferecemo-nos
a todas as romãs
a todas as cortinas levantadas
a todas as flautas lunares
a todas as bandejas de sonho
a todos os lagos e palmares
aos ventos de todos os lugares
Soares Teixeira – 15-01-2013
(©todos os direitos reservados)
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
"A TAÇA" - Soares Teixeira
Taça de Nestor, Museu Arqueológico de Atenas
Todos os amanhãs nascem hoje
a herança dos instantes
está na espuma de outras praias
Partir
do centro do peito
do cais do espanto
do terraço da pupila
Partir
nem que seja
rumo à miragem
que atravessa o olhar
Partir
provar o sabor do vento
aspirar o perfume do instante
sentir o horizonte nos pulsos
Partir
ser seiva
ser fruto
ser madrugada
Partir
apenas com uma taça na mão
para brindar à Terra
que é sagrada
Partir
apenas com uma taça na mão
para beber palavras
sempre que os lábios estiverem secos
de sonho e ilusão
Soares Teixeira
(©todos os direitos reservados)
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