domingo, 14 de novembro de 2010

"ENTREGA" - Soares Teixeira


Entrego o teu nome a um excesso
que de mim transborda
e esse inevitável Ser em que me torno
deixa-se trespassar pela memória
de tudo o que foi amado e foi extinto
A tua ausência liberta-me
do vibrar de todas as coisas
nenhuma lei me impedirá
de ser
o impulso de todos os pássaros
a seiva de todos os pinhais
o amanhã de todos os horizontes
Nada me impedirá
de segurar os braços do tempo
e de lhe dizer
que cada um dos meus instantes
tem o teu regresso
que a hora onde te recolheste
é um verso a regressar ao poema
Nada me impedirá
de segurar os ombros da distância
e de lhe dizer
que cada um dos meus gestos
tem o teu corpo
que cada um dos meus olhares
é um vento que te prende
Nada me impedirá
de ser excesso de fome
de ser excesso de chama
de ser excesso de tudo
o que possa surgir
da tua inextinguível ausência



Soares Teixeira