Guardo um livro
no bolso do olhar. Às vezes, quando deixo que em mim habite a ausência dos
nomes ou quero ser um destino longe da assinatura de todas as coisas, abro-o.
Pode acontecer que na cauda de um grito de gaivota venham sussurradas as
palavras “és meu irmão”, pode acontecer que uma nuvem me segrede “sou a tua
canoa”, pode acontecer que um rio se erga sobre a minha cabeça para me observar
e me diga “segue-me até aos astros”. Praias, montanhas e desertos; lanço-os
dentro do peito como búzios sobre a areia de uma praia e tudo o que não sei são
amuletos que coloco ao pescoço do meu silêncio. Nessas alturas começo-me numa
ardósia de espaço e se me tornar árvore e dos meus ramos nascerem frutos isso
não me surpreende – entrego-os aos pássaros do inominável. Sei que as galáxias
não têm todo o tempo da eternidade mas às vezes deixo-me ser eterno num segundo
de paz.
Soares Teixeira – 21-02-2015
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