domingo, 22 de maio de 2016

"ABSTRACÇÃO" - Soares Teixeira



Estou sentado num banco
pés na travessa
pernas juntas
cotovelos sobre os joelhos
queixo sobre as mãos
um banco que me leva pelo espaço
sem destino
ali um início perdido no tempo
ali um triciclo à minha espera
ali uma voz que jamais esqueci
ali aquele livro que ainda me sinto desfolhar
ali a imagem de um lugar que visitei
ali um navio onde fui horizonte
ali um anjo que me diz que retorna a casa
que casa? pergunto
e de repente surge-me uma taça nas mãos
e bebo a realidade
olhando para quem me chamou
olá! estás bom?
estou? e tu?
também!
regressado ao entardecer
recordo o banco e sorrio ao sol
é bom sermos anfitriões de nós mesmos
penso
aqui em frente deste mar
a fazer-me ser
mil anos de contemplação



Soares Teixeira – 22-05-2016
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 18 de maio de 2016

"SINTONIA" - Soares Teixeira



Brotam palavras
da silenciosa fala da flor
entendem-nas
os que vão sendo esferas
a rolar
entre o corpo e o cosmos



Soares Teixeira – 18-05-2016
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 17 de maio de 2016

"IR E VIR" - Soares Teixeira


Há um ir e vir
na mão do mistério

Luz e sombra
oferecem-se aos espaços
como um sopro feito de labirintos
e o tempo é uma ladainha
onde de vez em quando
acontecem praias

Estar aqui
é ter vindo
e ir a caminho
de lá
do antes e do depois

Movemo-nos numa travessia
de incompreensíveis
Vamos existindo dentro do que existe
como quem regressa
daquilo que nunca existiu
e para junto daquilo que nunca existiu

Às vezes
os automóveis param
os telefones deixam de tocar
os computadores ficam abandonados
e nós suspendemos o gesto
frontais a um pensamento
feito de água e astros

É nesses momentos que nos reunimos
às outras ondas
num ir e vir
em que o silêncio sabe bem




Soares Teixeira – 17-05-2016
(© todos os direitos reservados)

domingo, 15 de maio de 2016

"A UM HERÓI DESCONHECIDO" - Soares Teixeira



Que me chamem os pássaros de asas de ácido
que puxem por mim mãos de mentira e chama
que me insultem as hienas com riso de rosa

eu não vou

respiro o gesto da minha renúncia
alongo o olhar da minha estrada
e reúno-me aos acordes dos sem medo

esta é a minha arma



Soares Teixeira – 15-05-2016
(© todos os direitos reservados)

sábado, 14 de maio de 2016

"SÍLABAS" - Soares Teixeira




O pássaro
de braços abertos
a flor
a dançar em pontas
a formiga
a ser sílabas 
nos lábios
do chão

De mim
sol
na folhagem
manhã
nos ramos
e o meu nome 
soletrado
pelo vento

Jo sé



Soares Teixeira – 14-05-2016
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 12 de maio de 2016

"SER" - Soares Teixeira



ser dedos para conhecer a flor
ser olhar para acolher os astros
ser além para saber ser aquém



Soares Teixeira – 12-05-2016
(© todos os direitos reservados)