Fui sexta-feira ver "O menino de sua avó", no teatro A Barraca. Já vi muito teatro. Já vi muito bom teatro. Já vi interpretações memoráveis - não só em Portugal. Esta peça é do melhor que já vi. Da autoria de Armando Nascimento Rosa "O menino de sua avó" é um insólito, divertido e terno dueto cénico entre Fernando Pessoa e a sua avó, que tinha problemas sérios de demência e viveu com o poeta na mesma casa. A Grande Dama do Teatro Português Maria do Céu Guerra (no papel de avó) tem um fabuloso desempenho - de antologia, e Adérito Lopes também nos oferece um muito convincente Pessoa. Durante duas horas assistimos ao desenrolar de uma surpreendente obra onde pela magia do Teatro tudo é possível, mesmo o improvável e o impossível. Ir ao Teatro é sempre uma atitude saudável e nos tempos que vão correndo é urgente. Quando em certos meios nos impõem a mais repugnante pimbalhada e nos empurram para o tóxico consumo do fútil e fácil - enquanto a liberdade é um valor cada vez mais questionável - convém não esquecer que temos o dever para connosco de estar presentes nos nossos dias, sair da casca, caminhar em frente, e ter asas e dizer às nossas consciências: presente.
sábado, 15 de junho de 2013
"O menino de sua avó"
Fui sexta-feira ver "O menino de sua avó", no teatro A Barraca. Já vi muito teatro. Já vi muito bom teatro. Já vi interpretações memoráveis - não só em Portugal. Esta peça é do melhor que já vi. Da autoria de Armando Nascimento Rosa "O menino de sua avó" é um insólito, divertido e terno dueto cénico entre Fernando Pessoa e a sua avó, que tinha problemas sérios de demência e viveu com o poeta na mesma casa. A Grande Dama do Teatro Português Maria do Céu Guerra (no papel de avó) tem um fabuloso desempenho - de antologia, e Adérito Lopes também nos oferece um muito convincente Pessoa. Durante duas horas assistimos ao desenrolar de uma surpreendente obra onde pela magia do Teatro tudo é possível, mesmo o improvável e o impossível. Ir ao Teatro é sempre uma atitude saudável e nos tempos que vão correndo é urgente. Quando em certos meios nos impõem a mais repugnante pimbalhada e nos empurram para o tóxico consumo do fútil e fácil - enquanto a liberdade é um valor cada vez mais questionável - convém não esquecer que temos o dever para connosco de estar presentes nos nossos dias, sair da casca, caminhar em frente, e ter asas e dizer às nossas consciências: presente.
"SOMOS LEVES" - Soares Teixeira
Somos leves
olhamos em frente letra a letra
sem pressas
e os nossos corpos são feitos
com o acordar dos pássaros
Somos leves
entre as raízes das cores
que se estendem pela nossa claridade
e no aroma de tudo o que é belo
e promete ser mais belo ainda
Somos leves
diante do mundo e diante dos instantes
Somos uma ovelha no campo de um verso
branca silenciosa
Somos uma flauta a flutuar num segredo
longa liberta
Somos leves
caminhamos com vagar interior
e ao caminhar vamos ficando
nos arbustos de cada instante
Somos leves
e avançamos juntos de dedos enlaçados
como caules de flores que prometem ser únicas
Somos leves
e no nosso mundo fresco e sem peso
recebemos a grande praia transparente
dos amanhãs que se anunciam
Somos leves
como um princípio que ainda tem de ser dividido
Somos leves
e os nossos lábios serão o início de toda a obra
Soares Teixeira – 18-04-2013
(© todos os direitos reservados
segunda-feira, 10 de junho de 2013
sexta-feira, 7 de junho de 2013
Junho está estranho
Junho está estranho. Apetece-me Bach. Não apenas escutar
Bach mas emergir da música do Mestre e ir ao encontro de lugares iniciais.
Lugares de mistério e sossego situados entre galáxias longas e lentas, como
flores de tédio. Apetece-me ficar na proa do navio da música de Bach e
deixar-me ir no poema dos sons. Apetece-me abrir os braços à claridade da
grande música e ser apenas espírito. Prescindo de tudo o que ornamenta a
vaidade dos bichos menores e prescindo até desses mesmos bichos. Prescindo
mesmo do meu baú de sonhos. Apenas música, só música, como alimento e viagem.
domingo, 2 de junho de 2013
"MAR" - Soares Teixeira
Praia do Magoito (02/05/2013)
Mar
escuto
a tua voz
escutas
o meu silêncio
ambos
sabemos
que
sou eu o inacabado
por
isso perante ti
faço-me
templo
as
minhas colunas
têm a
altura do voo das gaivotas
as
minhas abóbadas
nascem
no sol
e este
chão
é o
respirar da tua superfície
queres
saber de que são feitas
as minhas
paredes?
elas
são o vento a bater
em
falésias de um eu
por
acontecer
queres
saber como são
as minhas
portas?
são estes
braços estendidos
para receber
os teus
abismos e milénios
queres
saber se tenho janelas?
sim tenho
janelas
tenho milhões
de janelas
por
onde entra a claridade
e uma
outra
imensa
sem fim
que me
faz falar-te assim
uma
janela
do
tamanho da liberdade
Soares Teixeira – 02-06-2013
(© todos os direitos reservados)
quinta-feira, 30 de maio de 2013
"SOLENIDADE" - Soares Teixeira
Cabo Sounion, Grécia
Encosto o sol à boca
e tudo é sagrado
estou carregado de pensamentos
como uma grande laranjeira
no pomar que guardo
atrás das pupilas
Através de mim
o instante está feliz
e o seu caule
eleva-me no espaço
Solenidade
A distância chama pela palavra
e pede-a em casamento
ela
vestindo-se rápido
com o meu sorriso
diz que sim
Um pássaro prepara a festa
entrançando luz
nos ramos das árvores
Não sei o que me apetece
nem o que desejo
sei que pertenço às falésias
de onde aceno
a veleiros de claridade
Soares Teixeira – 30-05-2013
(© todos os direitos reservados)
domingo, 26 de maio de 2013
"PÉS" - Soares Teixeira
Alonguei
os pés
como
quem calça uns sapatos novos
e
mergulhei-os dentro da água
nua e
fresca
a
oferecer-se
como
presente sempre eterno
As
minhas mãos estavam
ao
lado do corpo
sobre
a rocha onde me sentava
mas
tinha os braços abertos
porque
era assim o meu respirar
O mar
recebia
os
peninsulares dedos dos meus pés
que se
abriam e contorciam de gozo
como
príncipes
celebrando
a conquista de um novo reino
O sol
a debicar-me nas pálpebras
cada
raio uma gaivota
em
busca de alimento
talvez
os meus pensamentos
Com
todos os navios do olhar
rumo
ao horizonte
levava
nessa tranquila frota
os
meus sentimentos
o
resto
matéria
para dar vida à liberdade
que
ficasse
como a
rocha
o
olhar que fosse
ser
instante sem moldura
Ao ver
uma gaivota passar
senti-a
tão verdadeira como as outras
as que
são feitas de luz e espanto
e que
eu alimento
com
aquilo que me dá o ser
o
pensamento
De
repente dois peixes
a
passear tranquilos no mar
chamam-me
a atenção
sinto-os
felizes
debruço-me
para os ver melhor
faço-os
agitar
saltam
como loucos
como
são bonitos
os
meus pés
Soares Teixeira – 15-05-2013
(© todos os direitos reservados)
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