Quantas vezes
ainda antes
do poeta
beijar o poema
já ele exclama:
“Quero mundo!"
Quase criatura
mas ainda lunar
o poema espalha-se
pelo corpo do poeta
em faíscas e raios
e vento e vinho
e o poeta escuta
aquela voz enfeitiçada
que grita:
“Quero mundo!”
Plantas brotam da pele do poeta
e serpenteiam-lhe pelo corpo
envolvem-no
sacodem-no
acariciam-no
e átomos e mistérios
partilham entre si
sonhos e angústias
e sede e água
e escuridão e luz
e princípio e fim
partilham…
partilham…
tremendamente
até muito para lá
do extremo da partilha
partilham…
e é dessa força antiga
que nasce o trigo
a que o Sol chama:
“Meu filho, meu Poema”
e ele
o jovem bezerro
acabado de nascer
responde
alvoroçado
berrando bem alto:
“Quero mundo!”
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Soares Teixeira – 24-08-2020
(© todos os direitos reservados)
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