SONETO DOS QUARTOS DE ALUGUER
O amor é só de quem os olhos cerra
no desalmado instante da entrega.
Cerrai-vos, olhos meus, antes que cega
Vos cegue a lucidez que nos faz guerra.
Cerrai-vos, olhos meus, que os indiscretos
são punidos com leis muito severas…
Cerrados, sentireis… que primaveras!
Abertos, que vereis senão objectos?
E que abjectos objectos! tão prosaicos:
tapetes de aluguer com flor’s manchadas;
entre os pés do biombo, continuadas
as tábuas do soalho por mosaicos…
…Sempre esse frio sórdido, a seguir
ao fogo em que nos qu’remos consumir!
David Mourão-Ferreira, in “Obra Poética”
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