sábado, 28 de janeiro de 2017

"MANHÃ" - Soares Teixeira



Manhã
um pássaro voa
as nuvens são navios de silêncio no azul
ao contemplá-las aproximo-me
do ser praia ou árvore ou colina
a apetece-me beijar uma palavra na boca
um longo beijo que me saiba a infinito
o pássaro entra em mim
e estendo os braços
e deles sai a respiração do desejo
e junto os lábios à palavra universo
e num longo beijo
agradeço-lhe
este poema onde estou
este milagre de céu e mar





Soares Teixeira – 28-01-2017
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

"EU SOU..." - Soares Teixeira



Eu sou o que está
e o que me aparece no horizonte
eu sou o que se guarda no lugar
e aquele que de mim surge mais adiante
eu sou o coaxar da rã
e o lago noutro canto do jardim
eu sou estas palavras
e aquelas que ainda habitam o luar
eu sou o mar dentro do silêncio
e a asa no céu da flauta
eu sou a sede
e a minha imagem feita de água




Soares Teixeira – 23-01-2017
(© todos os direitos reservados)

domingo, 22 de janeiro de 2017

"É BOM" - Soares Teixeira



Mar
é sentarmo-nos à beira do silêncio
observando os nossos inícios
flor também
e insecto
é bom abrir o caderno do olhar
e consentir que o mundo
escreva um poema
dentro das galáxias do crânio



Soares Teixeira – 22-01-2017
(© todos os direitos reservados)

sábado, 21 de janeiro de 2017

"DENTRO DE UM POEMA" - Soares Teixeira



Dentro de um poema
a minha madrugada
em tantas palavras a estender os braços
em tantas palavras a entrar no peito
em tantas palavras a mudar de cor
em tantas palavras com lugares por descobrir
Dentro do um poema
o meu lado interior
a receber a semente levada pelo vento
a receber um chão de liberdade
a receber um touro feito de céu e astros
a receber um archote de tempo secreto
Dentro de um poema
a minha raíz
a trepar pela voz até chegar ao canto
a semear flores nas ancas do mar
a ser pássaro com sangue de horizonte
a receber o sol de sílabas sem fronteiras
Dentro de um poema
a minha festa
onde sou ilha
e praia
e dança
e maresia de infinito





Soares Teixeira – 21-01-2017
(© todos os direitos reservados)





quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

"NÃO MUDAREI DE ALMA" - Soares Teixeira



As minhas pálpebras atravessam a folhagem das palavras
as minhas janelas são os braços a beber ar fresco
o meu chão tem voz de futuro
os meus jardins são a música que me beija o mar
os meus azuis são os de águia viciada em horizonte
as minhas camisas são de sol com botões de orvalho
os meus calções são um princípio de lugar
vou descalço no coaxar das rãs
no meu gesto o descobrir de um pêssego para lá da porta
nos meus passos o algodão com desejo de ser nuvem
a minha oração é o ser gato sem me assustar com o cair da noite
e não mudarei de alma






Soares Teixeira – 18-01-2017
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

"RECANTOS" - Soares Teixeira



Tenho os meus recantos de alma
a eles me recolho
como se voasse dos meus lábios

para ser outro
não este
outro
com asas de chamamento
grandes asas onde os espaços se alargam
até onde a luz recita amanheceres
É bom ter dentro de mim
lugares assim
onde eu possa descansar
na margem do meu rio
uma pausa
nos dias de óxido de zinco
em que a raíz do canto
está debaixo de uma pedra



 Soares Teixeira – 17-01-2017
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

domingo, 15 de janeiro de 2017

"MAR INTERIOR" - Soares Teixeira



Quando a única realidade
que não dói na carne dos dias
é navegar no nosso mar interior
então é urgente
construir no estaleiro da vontade
o maior dos navios
e ser viagem
é urgente fazer de nós
a arte de assombrar as nuvens
e ir pelo horizonte
como quem se ergue no azul
numa horizontalidade e numa verticalidade
de peito onde vibra o alento da luz
é urgente a coragem




Soares Teixeira – 15-01-2017
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

"FIM DE TARDE" - Soares Teixeira



Fim de tarde
sou lábios que recebem o pôr-do.sol
e a minha alma são mil cravos a crescer
num azul de lira e canto
No horizonte há altares em liberdade
e para todos dirijo a minha única oração
aquela que as árvores me ensinaram
num tempo que tudo era ainda
rio por acontecer



Soares Teixeira – 11-01-2017
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

"CLARIDADE" - Soares Teixeira



Fico a sós
com o gesto de uma árvore
ao ser suave movimento
na nudez do vento
e vou sendo árvore e vento
e demoro-me neste desdobramento
não sei porquê
não sei por quanto tempo
nem em que navio faço a viagem
Nada povoa a casa do meu silêncio
e a minha claridade
é abrir-se um céu dentro de mim
e nele eu sentir-me
uma página
onde devo ser pássaro
antes do fim



Soares Teixeira – 10-01-2017
(© todos os direitos reservados)

domingo, 8 de janeiro de 2017

"O RIBEIRO" - Soares Teixeira



A Primavera que fui
- pálida memória –
dorme no passado
por trás da estrada que atravesso
daquele tempo
de pupilas escancaradas às descobertas
e braços a rodar nas searas dos instantes
resta um pequeno ribeiro
que ainda me corre no rosto
sempre que um pássaro
me embrulha em horizonte
com laço azul
e o pássaro pode ser
um poema, uma paisagem, uma canção
uma melodia, uma árvore, um amigo
por isso
este meu apreço pelas aves
são elas que fazem brilhar
as águas e os peixes
com que enfrento os dias



 Soares Teixeira – 08-01-2017
(© todos os direitos reservados)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

"SONHO" - Soares Teixeira



Sonho
ser um pequeno peixe dourado
acabado de nascer
numa gruta estreita
de que falam as ondas do mar
vejo três sereias que se aproximam

com presentes para me oferecer
uma traz a música
outra a poesia
e outra a dança
depois lanço-me aos oceanos
com os meus tesouros
e com eles vivo feliz
entre cordilheiras submarinas
vastidões de corais
e incontáveis cardumes de peixes
até que um dia
subo acima do tecto da água
transformo-me em pássaro
e mergulho no céu
longamente
dentro de um tempo
apenas meu



Soares Teixeira – 06-01-2017
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

"POEMA DE AGRADECIMENTO AOS MEUS SAPATOS" - Soares Teixeira



Os meus sapatos sabem estórias
contadas por estradas, passeios e jardins
pelos meus pés também
e ainda pela manhã onde entro
quando oiço aquele poema
que me faz atirar o sorriso
aos olhares monótonos
sim, porque os meus sapatos não gostam
que eu fique do lado de cá
preferem que eu vá para o lado de lá
para a outra margem da palavra acesa


Soares Teixeira – 05-01-2017
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

"RESISTIR" - Soares Teixeira



Observar os pássaros das coisas
sentir as flores dos instantes
estar no lado azul das palavras...
ainda que o espinho
seja a única verdade
única
e íntima da garganta









Soares Teixeira – 04-01-2016
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

"À MESA" - Soares Teixeira



Ás vezes
- pêndulo abandonado -
perco-me...

em passos de árvore
que sai pela porta do possível
e atravesso planícies
com chão de princípio
Ao longe
sobre uma mesa
está um púcaro
feito de barro e sílaba
Avanço
- desígnio cumprido -
sento-me
e ávidamente bebo
a frescura do estar só
e fico ali
junto de todos
os que comigo têm lavrado os dias
Depois conversamos
alegremente
e os gestos dos nossos ramos
não surpreendem
aqueles que sabem
ser íntimos dos girassóis

Soares Teixeira – 03-01-2017
© (Todos os direitos reservados)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

"NO CABO DA ROCA" - Soares Teixeira



Diligentes
os dedos do olhar
compõem a trança de luz
que flutua no ar

Ondulando horizonte
sou o meu barco
nele levo a Europa
e ofereço-lhe o mar



Soares Teixeira – 02-01-2017
(© todos os direitos reservados)