quarta-feira, 12 de outubro de 2011

"REGRESSO" - Soares Teixeira


Um violoncelo desliza
pelo vasto corredor de uma casa antiga vazia
à sua passagem as salas suspiram de saudade
e a entranhada mágoa das paredes espreita
por cima das molduras dos retratos
de gente que já foi claridade
Um vento fresco de manhã inaugural
sopra súbito sobre aquele grande livro fechado
e uma janela abre-se
e mil pássaros de luz serpenteiam
pelos corredores pelas escadas e pelas salas
da grande casa tombada no musgo do tempo
uma jovem de tranças louras
solta gargalhadas cristalinas
e uma alegria exilada saúda os retratos
Como um fiel namorado
o violoncelo desliza
para os braços da adolescente
e Bach irrompe como uma primavera
Lá fora o velho carvalho reúne os pássaros
e juntos observam o portão do jardim
que depois de tantos anos fechado
se abre agora
em movimento lento quase ilusório

Ela voltou dizem as aves
Está igual diz a árvore fiel
Tantos anos diz comovida a anciã


Soares Teixeira