quinta-feira, 13 de outubro de 2011
"À BEIRA MAR" - Soares Teixeira
Aqui
perante este horizonte onde me alongo
dentro desta distância que acontece em mim
sou um crente aos pés do sonho
sou uma pálpebra sem fim
sou o absoluto
no céu o azul recebe o vermelho
nas asas das gaivotas nadam peixes
é de espuma a sabedoria do mar
a praia faz companhia aos barcos
o sol aninha-se nas águas
respiro a anunciação de que é feito o ar
bebo êxtase
não quero outro paraíso
aqui
neste agora tão leve
recebo o primeiro começo de uma divindade
sou um grão de areia com uma alavanca no peito
sou um átomo com o infinito no pensamento
aqui
ao abrigo deste momento
sou uma nuvem onde me deito
começo onde estou e acabo na eternidade
não quero outro paraíso
Soares Teixeira
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
"REGRESSO" - Soares Teixeira
Um violoncelo desliza
pelo vasto corredor de uma casa antiga vazia
à sua passagem as salas suspiram de saudade
e a entranhada mágoa das paredes espreita
por cima das molduras dos retratos
de gente que já foi claridade
Um vento fresco de manhã inaugural
sopra súbito sobre aquele grande livro fechado
e uma janela abre-se
e mil pássaros de luz serpenteiam
pelos corredores pelas escadas e pelas salas
da grande casa tombada no musgo do tempo
uma jovem de tranças louras
solta gargalhadas cristalinas
e uma alegria exilada saúda os retratos
Como um fiel namorado
o violoncelo desliza
para os braços da adolescente
e Bach irrompe como uma primavera
Lá fora o velho carvalho reúne os pássaros
e juntos observam o portão do jardim
que depois de tantos anos fechado
se abre agora
em movimento lento quase ilusório
Ela voltou dizem as aves
Está igual diz a árvore fiel
Tantos anos diz comovida a anciã
Soares Teixeira
terça-feira, 11 de outubro de 2011
"INFÂNCIA" - Soares Teixeira
A folha flutua no lago
um insecto é um marinheiro na folha
um raio de sol traça o rumo
uma criança observa
o seu olhar é tão fugaz
como o de um pássaro
despreocupadamente azul
Soares Teixeira
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