segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"POEMA PARA PENÉLOPE" - Soares Teixeira


Mulher que olhas o mar
as tuas mãos estendidas pelo horizonte
alongam o promontório que te sustém o corpo
e esse chão de saudade e gesto
oscila sobre as ondas onde te recorda
aquele por quem te inquietas

Porque há chamamentos que nem os deuses entendem
as linhas do teu olhar
estão para lá de qualquer explicação
os instantes passam por ti
como se estivesses morta para os receber
vives apenas na outra face dos espaços





Soares Teixeira

domingo, 14 de novembro de 2010

"ENTREGA" - Soares Teixeira


Entrego o teu nome a um excesso
que de mim transborda
e esse inevitável Ser em que me torno
deixa-se trespassar pela memória
de tudo o que foi amado e foi extinto
A tua ausência liberta-me
do vibrar de todas as coisas
nenhuma lei me impedirá
de ser
o impulso de todos os pássaros
a seiva de todos os pinhais
o amanhã de todos os horizontes
Nada me impedirá
de segurar os braços do tempo
e de lhe dizer
que cada um dos meus instantes
tem o teu regresso
que a hora onde te recolheste
é um verso a regressar ao poema
Nada me impedirá
de segurar os ombros da distância
e de lhe dizer
que cada um dos meus gestos
tem o teu corpo
que cada um dos meus olhares
é um vento que te prende
Nada me impedirá
de ser excesso de fome
de ser excesso de chama
de ser excesso de tudo
o que possa surgir
da tua inextinguível ausência



Soares Teixeira

sábado, 13 de novembro de 2010

"ANÚNCIO" - Soares Teixeira


Chegaram os pássaros de um tempo antigo
e com eles os poetas que ergueram templos
feitos de palavras de longos remos
Chegaram os carvalhos de um tempo antigo
e com eles as entranhas de uma terra
que nos chama para a unidade
Chegaram as antigas forças
e com elas novas águas
onde todo o renascido se irá banhar
Chegaram as lanças
Chegaram os rugidos
Chegaram as feras
Chegaram as lutas
Chegou o novo tempo antigo
e os braços erguem-se ao alto
e dos dedos saem cisnes com asas de ouro
e os olhos erguem-se ao alto
e das pupilas sai cada um de nós
liberto do peso do medo
Chegaram os céus de um tempo novo
e todos os ombros ficaram mais direitos
Chegaram as sementes de outras manhãs
e a verdade foi devolvida ao mundo



Soares Teixeira