segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

"O QUE IMPORTA" - Soares Teixeira







De onde veio esta água
onde somos navio?
de onde veio este céu
onde somos caule de além?
não sei
nem importa
não importa
o arco da pergunta
ou a curva da resposta
o que importa
é esta planície
onde caminhamos
na construção de um palácio
sem paredes, nem tetos, nem chão
apenas lugar
em nós
arquitetura sempre diferente
concebida pelo beijo
construída a partir do gesto
palácio perfeito
para lá do tempo
para lá da razão
o que importa
é esta sede incandescente
de desejo´
é sermos nós
apenas
e tanto



Soares Teixeira – 08-12-2014
(© todos os direitos reservados)

domingo, 7 de dezembro de 2014

"A ÚNICA LEI" - Soares Teixeira







Havia sol na sala
na valsa do beijo
desabotoámos
o nosso secreto poema
e as palavras caíram no chão
chegara o instante
de libertar tigres e açucenas
deitámo-nos então
para entrançados
sermos a única lei
depois
voámos
no tapete oriental
rumo aos abismos
onde espaço e tempo
se desnudam
desabotoando
os seus secretos poemas
assim libertando
palavras
no espaço sideral



Soares Teixeira – 07-12-2014
(© todos os direitos reservados)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

"TUDO MENOS BANAIS" - Soares Teixeira








Neste beijo
Um anjo lê um livro sentado numa nuvem
outro talha uma pedra num planeta distante
outro ainda passeia dentro dum raio de luz
onde há pinturas que abraçam olhares deslumbrados
outras procuram sílabas dentro das suas cores
e outras ainda são sempre um silêncio inacabado
neste outro
o olhar das águas assoma do enigma
a alma dos confins abre-se a todos os círculos
o fulgor das coisas divinas brilha numa borboleta
e perdidos são os ventos de si mesmos
e abertos são os caminhos das origens
e indivisível é a nascente da eternidade
e neste
acontecemos
como jardim de rosas ao luar
ao luar de cânticos que dançam
ao luar de seios cheios
de lua e desta viagem
minha e tua

somos tudo menos banais
momentos de oração, centauros, cachos de uvas
lágrimas de sóis, risos de flores embriagadas
outros espaços, outros pássaros, outras madrugadas
tudo menos banais
carnais apenas na ondulação



Soares Teixeira – 05-12-2014
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

"CLARIDADE" - Soares Teixeira








Luar pleno em ar de êxtase
e uma espada de sede
a vencer fantasmas de distância

o meu nome é mar
o meu gesto é de navio
o meu caminho é beber-te

claridade
anterior à asa e à pérola
claridade
anterior à flauta e ao silêncio
claridade
do suor sideral
e da seiva de infinito
claridade
no amanhã do pássaro
e na pedra entregue ao grito
claridade
a oscilar nas árvores
claridade
a inundar as bocas

desejo pleno a crescer em mel
flor de nuvem
no vulcão das veias

o meu instante és tu
puxo-te e guardo a arma no olhar
vem!
a hora é de exílio no incêndio



Soares Teixeira – 04-12-2014
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

"CONVITE" - Soares Teixeira







Olho-te

por trás da forma
está a estética do inexplorado
por trás do gesto
está a órbita da polpa
recosto-me numa almofada
que quer conhecer o meu calor
não sei em que palavras tenho a boca
nem em que argila tenho os dedos
moldo-te em música
hum…
que bom ser felino e poder voar
sabes…
tens um pijama igual ao meu
feito de desordem, sede e ar
aqui e ali o desenho de uma ilha inventada
que tal se nos despíssemos
para nos cobrirmos com o manto
de sedosa incandescência
que nos oferece aquela deusa
que caminha na praia do luar?



Soares Teixeira – 03-12-2014
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

"O DIA DA REVELAÇÃO" - Soares Teixeira








Creio
que nunca vês
as asas
nas minhas costas
quando escreves o meu nome
na forma como danças
dentro das palavras
de onde me chamas

vem
amo-te

e eu
colibri de fogo
vou
rápido
porque menos que isso
seria insuportável lentidão

mas hoje
não sei porquê
talvez
por me sentir
ânfora a derramar vinho lunar
sou lenta brasa
na intimidade dos mitos
e
touros sagrados
véus enfeitiçados
navios enamorados
rodeiam-me
envolvem-me
com coisas de mistério
e
embriagado de uma nova respiração
sou
de braços abertos
vagar
a rodar no meu eixo de desejo
hoje
em mim a revelação
hoje
próximo da chuva
que ainda não desceu do sono
asas beijam
o sorriso onde danças
de admiração



Soares Teixeira – 02-12-2014
(© todos os direitos reservados)