Eternamente horizonte
as gaivotas bebem azul
em voos perfeitos
nada perturba a lisura
das toalhas que estendem
sobre a mesa do meu olhar
sento-me
numa cadeira de pensamento
e logo a torno ausente
porque a contemplação
se sobrepõe
a tudo o que em mim é interior
sou outro instante
outro dia parecido com este
mas diferente
outra hora
em que não me esperava encontrar
ou talvez esperasse
no segundo em que nasci
sou um outro que me substituiu
e a minha forma é a de cálice
e a minha substância é luz
assim sentado sou um não-ser
que é celebração
assim ausente sou taça imaterial
que é condição
nem espanto de árvore
nem pórtico de mistério
levo comigo
vou no cortejo das aves
e tudo em mim se resume
ao impossível que já não é
até a cidade da alma fica para trás
O Além, apenas… e tanto…
Soares Teixeira – 20-11-2016
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