terça-feira, 12 de abril de 2016

"LEVE" - Soares Teixeira




O meu nome?
está escrito entre dois rios
a minha respiração?
está entre duas asas
os meus passos?
estão entre duas palavras

há longos lenços de fogo
em volta dos pescoços
das deusas
que me estendem os braços
e voam, esses lenços
voam… leves

  fantásticos cascos de ouro
nas patas velozes
dos cavalos
que conduzem a minha quadriga
e voam, esses cascos
voam… leves

há mar e música
no abraço apertado
do horizonte
que ao ouvido me pede
para voar
voar… em leveza

por isso
é entre dois rios
é entre duas asas
é entre duas palavras
que sou
que respiro
e que vou



Soares Teixeira – 12-04-2016
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 11 de abril de 2016

"SONHO" - Soares Teixeira




Despiram-se
numa página de luar
e caminharam
um dentro do outro
até que amanheceram
em rio de sorriso e promessa

com o olhar
afastaram as palavras
deram as mãos
e foram ser cálices
a dar de beber aos dias
até que a morte os despertou



Soares Teixeira – 11-04-2016
(© todos os direitos reservados)

domingo, 10 de abril de 2016

"POWERED BY POETRY" - Soares Teixeira




Oh poetry
ageless mystery
lucid world of light
where the big tree grows
and I am the flower
within a tomorrow
still to come

Oh universes of dream
here I go
music and dance wings
long cry for freedom
here I go
human and solar ship
powered by poetry


Soares Teixeira – 10-04-2016
(© todos os direitos reservados)

sábado, 9 de abril de 2016

"O MECANISMO" - Soares Teixeira




Às vezes penso se seria bom ter vontade de perguntar à minha ausência a que fogo erguerei um dia a taça de alabastro transparente e logo digo a esse pensamento que se vá porque a minha sede é de agora; a minha sede é ser cacho de uvas nas manhãs e gesto em arco na celebração das noites; a minha sede é ser viva nudez da sede e som de violino na linha do horizonte. Perguntar o indecifrável ao indecifrável é habitar o inabitável e consagrar-me ao esquecimento de mim. Negação, pois! Não, não terei essa vontade. A única vontade que quero ter é a de ver palavras a florir nas veias por onde os meus dias correm. Nem que seja um “Bom dia dona formiga, bom dia senhor Sol”. Essa é a única vontade que quero ter, é a única folhagem em que quero ser pássaro, o único vértice onde quero acumular os meus instantes, a única esteira do meu navio. Para quê perguntar o que quer que seja à minha ausência? Por volúpia de dúvida? Por ânsia de apoteose? Melhor subir às cavalitas do tempo e agitar os braços a saudar os centauros que correm pelos bosques inquietando árvores e gotas de orvalho. A arte de ser rio e relâmpago – isso sim… nisso vale a pena pensar, nisso vale a pena ser pensamento. A minha ausência que fique… ausente. E no entanto… enquanto lavro o terreno do agora negando qualquer semente que não seja a dos momentos recém-nascidos em mim trabalha o imperscrutável mecanismo do sentir e, quer queira quer não, sinto na palavra negação uma praia-sílaba igual à que existe nas palavras criação e evolução.



Soares Teixeira – 09-04-2016
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 6 de abril de 2016

"MÃOS ABERTAS" - Soares Teixeira




Mãos abertas à saudade
de termos sido árvores
a crescer num chão só nosso
e que fazíamos renascer

mãos abertas à saudade
de termos sido ondas
em arqueados sussurros
de violenta e aveludada nudez

mãos abertas à saudade
de termos sido
tempo liberto do tempo
e espaço liberto do espaço

mãos abertas a esta chuva
de saudade
que refresca a face
e sacia a sede das rugas



Soares Teixeira – 06-04-2016
(© todos os direitos reservados)